"Afinal, quantos pobres recebem “950 euros” do Estado?"
Na discussão do Orçamento para 2015 o Justiceiro Social,
Mota Soares, proclamou que era necessário colocar um ponto final na vida dos pobres que vivem à rica,
com 950€ por mês e mais, vindos dos apoios sociais, ou seja, viviam da “chulice”
e , como se não bastasse, "à grande e à francesa”.
A comunicação social tentou que o Justiceiro Social dissesse
quantas e quais mas o rapaz calou-se, disse nada.
Dado o silêncio do Justiceiro Social Mota Soares, o Público
resolveu ir à procura dessa malandragem que vive à grande e são pobres
Das 400 famílias apoiadas pela Misericórdia de Almada, as oito
famílias que recebem 700 ou mais euros de subsídios e apoios são constituídas
por dois, cada um com cinco menores a cargo. Como um desses casais não tem
qualquer fonte de rendimento recebe 940 euros de RSI e de abonos, o que dá 134
euros por pessoa, por mês. Para pagar casa, gás, luz, alimentação, e tudo o
mais. Uma vida luxuosa, como se vê.
O segundo casal com cinco filhos menores, só a mãe trabalha,
a tempo parcial, com um salário de 189 euros por mês. Recebe mais 716 euros de
RSI e de abonos. São 102 euros por pessoa/mês.
Desses oito casos assinalados pela Misericórdia que recebe
um montante mais elevado de prestações sociais, o maior é o de uma família de
11 pessoas sem rendimentos de trabalho. São sete adultos (só um frequenta um
curso de formação) e quatro menores. O agregado recebe 984 euros em apoios do
Estado, entre RSI e abonos, o equivalente a 89 € por mês por pessoa, daí a vida
de luxo e ostentação que esta gente mostra.
Segundo os técnicos
que acompanham a família, “Este agregado familiar apresenta um total de
despesas fixas, sem contar com alimentação, de 211,50 euros por mês”, prossegue
o técnico. O que significa que, pagas essas despesas, sobram, na verdade, para
a alimentação e tudo o resto, 70 euros por pessoa por mês. Vai dando para o
Audi (se pedirem factura é claro)
Também pode ser interessante consultar os dados relativos ao
que cada pessoa pode receber no âmbito dos apoios sociais que como é sabido têm
sido objecto de corte substantivos.
Sabemos do oportunismo e
fraude no acesso a apoios sociais, ou a qualquer outra forma de apoios,
subsídios ou qualquer outro esquema que envolva dinheiro, chame-se RSI, Fundos
Europeus, Swaps, Vistos Dourados, Branqueamento de capital, fraude e evasão
fiscal etc., etc., É tudo uma questão de escala e de estatuto do autor. Ninguém
imagina o Dr. Ricardo Salgado a aldrabar o RSI como também não se
imagina o Xico dos Anzóis a receber uma prenda de 14 milhões dum rapaz chamado
Zé Guilherme. Que quem direito actue em conformidade sem dois pesos e duas medidas.
Afirmo com frequência que uma das consequências menos
quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em
particular o de longa duração e de situações em que o tempo obriga a perder o
subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas e a esmagadora maioria
das pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a
sobrevivência a que só se acede pela “mão estendida” que envergonha,
exactamente por uma questão de dignidade roubada.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos
fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida … mas lá que existe,
existe. E de que maneira.
Sem comentários:
Enviar um comentário