A vida normal de dois sem-abrigo
Em linha com a qualidade a que nos habituou, Paulo Moura tem hoje um trabalho no Público sobre o quem título é designado como "A vida normal de dois sem-abrigo".
É evidente que designar como "normal" a vida de dois sem-abrigo soa estranho. No entanto, a existência e a vida dos sem-abrigo entrou numa estranha dimensão de normalidade, ou melhor, numa dimensão de transparência, não os vemos, vemos através deles,
Está a chegar a época do Natal e agora sim, vão ganhar visibilidade. Vão multiplicar-se as refeições oferecidas a sem-abrigo, a que não faltará o bacalhau e o bolo-rei, Boa parte destes sem-abrigo vão aparecer com uma roupinha mais composta, oferecida, evientemente, que lhes dará melhor aspecto, tiveram um banho e tudo isto vai acontecer com uma obscena cobertura mediática.
Serão insultuosas as perguntas estúpidas e ofensivas que alguns repórteres televisivos entenderão por bem colocar aos sem-abrigo, perguntando, por exemplo, a "este senhor" ou a "esta senhora" se se sente bem e se gosta da refeição que lhes foi proporcionada. Perguntarão ainda se assim o Natal fica melhor e eles, que haveriam de dizer, dirão que sim, comem um bocado melhor, vestem umas roupas diferentes e aparecem na televisão, proporcionando um pornográfico espectáculo de mediatização da exclusão, da miséria e da pobreza,
Entretanto, a vida normal do Vítor e do João tratados com dignidade por Paulo Moura continuará na sua normalidade inaceitável.
Uma pequna nota para a indiferença com o que os que nos desabrigam olharão para estas coisas, coisas de pobres, irrelevantes, já se vê.
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