Desperdício de comida no campo e na fábrica dá para encher todos os caixotes do lixo do país
O Público tem em
desenvolvimento durante o mês de Dezembro um trabalho que me parece
particularmente relevante, diria que é serviço público. O trabalho centra-se no
desperdício alimentar, matéria a que aqui também já me referi.
Alguns dados. A
Organização para a Alimentação e a Agricultura, da ONU, estima que 1,3 mil
milhões de toneladas de alimentos, um terço do que é produzido, são
desperdiçadas com um custo de anual de 570 mil milhões de euros para a
economia global, o suficiente para alimentar 925 milhões de pessoas. Vivemos
num mundo estranho. Na Europa, até chegar ao consumidor perde-se entre 30 e 40% da comida, qualquer coisa como
179 quilos por habitante, 42% dos quais em casa.
Segundo o Projecto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício
Alimentar (PERDA), desenvolvido pela Universidade Nova de Lisboa, estima-se que
“no campo e no armazenamento, no sector
da pecuária e nas pescas, todos os anos são desperdiçadas 332 mil toneladas de
alimentos em Portugal, valor que ultrapassa o desperdício que é feito pelos
próprios consumidores (324 mil toneladas de comida deitadas fora).
Somando as 77 mil
toneladas perdidas na indústria que processa os alimentos, entre o campo e as
fábricas, desperdiçam-se no total 409 mil toneladas por ano.”
Esta escala de valores no que respeita ao desperdício de
alimentos é devastadora e, como por vezes se quer acreditar, não é coisa de
gente rica, é coisa de toda a gente e mostra o quase tudo que está por fazer.
O desperdício é um subproduto dos modelos de desenvolvimento
e dos sistemas de valores que deveria merecer uma fortíssima atenção.
Há algum tempo, creio que em 2013, o Parlamento Europeu
aprovou um relatório segundo o qual a União Europeia que tem 79 milhões de
pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza, 15,8% da população, e desperdiça
anualmente cerca de metade do que consome em alimentos. Este desperdício
corresponde a 89 mil milhões de toneladas, um assombro. Aliás, o Parlamento
Europeu estabeleceu como objectivo reduzir em 50% o desperdício até 2025.
Quando tanto se fala de produtividade, em nome da qual, se
ameaça a dignidade das pessoas e se lhes piora as condições de vida talvez
fosse altura de também nos centrarmos no desperdício e nos seus efeitos
devastadores.
Neste quadro releva a necessidade urgente de ponderar os
modelos de desenvolvimento económico e social, questionar o quadro de valores
com que nos organizamos em comunidade, designadamente no que respeita ao
consumo e aos excessos e combater desperdícios que também são consequência
desses modelos. Veja-se o caso da quantidade de fruta de excelente qualidade
rejeitada pelo aspecto ou pela dimensão
Provavelmente, escrever sobre estas questões em espaços desta natureza tem alcance zero, mas continuo convencido que é fundamental não deixar cair a preocupação, talvez seja melhor chamar-lhe a indignação, com a pobreza e exclusão para as quais os níveis de desperdício dão um forte contributo.
Provavelmente, escrever sobre estas questões em espaços desta natureza tem alcance zero, mas continuo convencido que é fundamental não deixar cair a preocupação, talvez seja melhor chamar-lhe a indignação, com a pobreza e exclusão para as quais os níveis de desperdício dão um forte contributo.
Sem comentários:
Enviar um comentário