"O Diário de Notícias faz 150 anos. Descubra 150 coisas que se escondem na Alma de Portugal"
Hoje a imprensa é notícia. O Diário de Notícias cumpre 150 anos,
são muitos anos de presença diária num país.
É recorrente, não só em Portugal, a discussão da questão da
sobrevivência da imprensa e, naturalmente, da sua independência face aos
poderes, político e económico, designadamente. Sabemos das tentativas recorrentes
de controlo político da imprensa, como também sabemos da eventual agenda
implícita dos investimentos dos grupos e poderes económicos na imprensa,
veja-se os investimentos angolanos na comunicação social em Portugal.
Por outro lado, a evolução do próprio mundo dos jornais,
a evolução exponencial do universo do on-line, a conjuntura económica inibidora
de gastos das famílias em bens “não essenciais” e, caso particular de Portugal,
o baixo nível de hábitos de leitura e consumo da imprensa escrita, produzem
dificuldades de sobrevivência de títulos de qualidade, chamados de referência,
abrindo caminho à chamada imprensa tablóide que, apesar das oscilações, se
mantém relativamente saudável, o que se entende. São também tablóides os
tempos.
Como leitor de jornais desde muito novo, é sempre com
inquietação que penso nestas questões e vou assistindo ao abaixamento das
tiragens em papel, também do DN. Numa entrevista ao Público há já algum tempo,
um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os jornais),
deixar de ser rentável e, como tal, correr o risco de desaparecimento, as
democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico". Creio que a
cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da
espuma dos dias e acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das
incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os
jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons
jornais. Quando escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e
jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter
leitor diário de jornais em papel. É que, apesar de também consumir informação
noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem
que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da minha mochila.
Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do
trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por
muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o
Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a
títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva, o Jornal
do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora,
janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade que um regime espesso e
fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com
o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações
do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que
ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de
Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou
a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel
Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com
a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que
mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal. Relembro o espaço que o Jornal
de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público,
um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar
diariamente cá em casa na versão papel.
A imprescindível sobrevivência dos jornais, dos bons
jornais, garante-se na escola, nos hábitos de leitura, na educação. Na
cidadania.
Parabéns ao DN e que continue por muitos mais.
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