"Um em cada cinco adolescentes já se magoou para lidar com a tristeza"
No Público de hoje encontra-se um excelente trabalho sobre
um universo pouco divulgado e que é fonte de uma enorme inquietação e sofrimento em
adolescentes e famílias. Trata-se do comportamento de automutilação,
adolescentes e jovens causam sofrimento a si próprios. Foram conhecidos os
últimos dados do estudo A Saúde dos Adolescentes Portugueses que
integra o estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children,
da responsabilidade da OMS, realizado de quatro em quatro anos e coordenado em
Portugal pela excelente equipa da Professora Margarida Gaspar de Matos e de
leitura obrigatória para compreensão do universo dos adolescentes e jovens portugueses
Um em cinco alunos entre o 8º e o 10º ano já se magoou a si
próprio, de propósito, nos últimos 12 meses, sobretudo cortando-se nos braços,
nas pernas, na barriga... Referiram que se sentiam “tristes”, “fartos”,
“desiludidos” quando o fizeram.
Este indicador, preocupante como é evidente, é-o tanto mais quando
representa um aumento de quase cinco pontos percentuais do grupo dos que fazem
mal a si próprios considerando o Relatório de há quatro anos.
É importante sublinhar que foram envolvidos no estudo 6026
alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, de Portugal continental, com idades entre os 10
e os 20 anos (a média de idades é 14 anos).
Na verdade, os comportamentos de automutilação em
adolescentes são mais frequentes do que muitas vezes pensamos. Alguns estudos
internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com
comportamentos de automutilação pelo que os dados encontrados em Portugal são,
de facto, preocupantes.
Este quadro é um indicador do mal-estar que muitos
adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar
suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de
sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por
exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de sentimentos
de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de comportamentos
autodestrutivos. Começa também a emergir como causa deste mal estar a
dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lidar com situações
de insucesso escolar. Estas dificuldades são frequentemente potenciadas pela
pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes se instala.
O sofrimento e mal-estar induz uma espiral de comportamentos
em que os adolescentes causam a si próprios sofrimento que promove mais
sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de perplexidade, impotência e
sofrimento para as famílias também extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer
qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no
seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes não damos atenção, seja em
casa, ou na escola espaço onde passam boa pare do seu tempo boa parte do seu
tempo, De facto em muitos casos, designadamente, em comportamentos de automutilação,
pode ser possível perceber sinais e comportamentos indiciadores de mal-estar
que aliás são referidos no trabalho do Público. Estes sinais não podem, não
devem, ser ignorados ou desvalorizados. É também importante que pais e
professores atentos não hesitem nos pedidos de ajuda ou apoio para lidar com
este tipo de situações.
Muitos pais, diz-me a experiência, sentem-se de tal forma
assustados que inibem um pedido de ajuda por se sentirem impotentes e
assutados.
O resultado pode ser trágico e obriga-nos a nós a uma
atenção redobrada aos discursos e comportamentos dos adolescentes.
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