quinta-feira, 1 de março de 2012

SE ELE QUISESSE

Era uma vez um rapaz. Deste, não me lembro bem do nome, mas creio que se chamava Rapaz. Na escola as coisas não corriam muito bem, os resultados eram baixos e o comportamento também não era muito positivo. O curioso é que toda a gente que falava do Rapaz e dos problemas que ele dava, acabava sempre por afirmar, “se ele quisesse”.
Todos os professores que o foram conhecendo, invariavelmente, acabavam por achar, “se ele quisesse”. A direcção da escola, sempre que recebia mais uma queixa, lá afirmava “se ele quisesse”. Os funcionários da escola, também já tinham aprendido que, quando se falava do Rapaz, a conclusão era, obviamente, “se ele quisesse”. Até os colegas, parte deles, também já se tinham habituado a pensar o Rapaz a partir do “se ele quisesse”.
Um dia, uma das professoras falava com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, e, claro, a conversa foi ter aos problemas levantados pelo Rapaz e, finalmente, ao inevitável “se ele quisesse”.
O Velho pensou e falou naquele jeito baixo. “Quando alguém de vocês falar com o Rapaz, experimente perguntar porque é que ele não quer, mas espreitem bem para dentro dos olhos dele. Talvez ajude a aperceber e a sossegar o medo que ele deve sentir, e para que o Rapaz veja nos vossos olhos que vocês querem que ele queira, porque, talvez, ele não saiba isso”.

2 comentários:

Marco Santos disse...

Eu costumo ler bastante, ou melhor talvez seja uma falácia, costumava ler bastante, recordo-me claramente de quando não tinha computador, e em vez de ter acesso à World Wide Web, me entretinha a ler. Recordo-me, com aquele relembrar enevoado e longínquo de uma colecção que a minha mãe adquiriu de onde faziam parte: Tolstoi, Dorian Gray, Oscar Wilde, Dante, Shakespeare, Fiodor Dostoievsky, Edgar Alan Poe, Niestche e outros Digníssimos Senhores da Literatura e a impressão que fica, a emoção que surge associada é a de uma imersão, um mergulhar no mundo das letras, emergindo à superfície de quando em vez. É com alguma nostalgia que recordo esses tempos, especialmente porque embrenhava-me nos livros, e sentia me na história. Hoje, quiça vítima da eterna aritmética que agrilhoa os meus tempos livres, tenho que contabilizar o tempo que passo a ler, e entrecortá-lo com o trabalho universitário (de estudante universitário) porém o tempo é uma nova fuga à questão, a verdade, uma de cariz mais central, de foco nuclear. A realidade é que existem poucos escritores que me façam sentir maravilhado, surpreendido e ansioso por ler mais. E deixe-me que lhe diga, por momentos enquanto lí o seu texto, tinha 13 anos outra vez.

Obrigado.

Zé Morgado disse...

Obrigado, Marco, as letras serão sempre mágicas, inventam mundos