Era uma vez um rapaz. Deste, não me lembro bem do nome, mas creio que se chamava Rapaz. Na escola as coisas não corriam muito bem, os resultados eram baixos e o comportamento também não era muito positivo. O curioso é que toda a gente que falava do Rapaz e dos problemas que ele dava, acabava sempre por afirmar, “se ele quisesse”.
Todos os professores que o foram conhecendo, invariavelmente, acabavam por achar, “se ele quisesse”. A direcção da escola, sempre que recebia mais uma queixa, lá afirmava “se ele quisesse”. Os funcionários da escola, também já tinham aprendido que, quando se falava do Rapaz, a conclusão era, obviamente, “se ele quisesse”. Até os colegas, parte deles, também já se tinham habituado a pensar o Rapaz a partir do “se ele quisesse”.
Um dia, uma das professoras falava com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, e, claro, a conversa foi ter aos problemas levantados pelo Rapaz e, finalmente, ao inevitável “se ele quisesse”.
O Velho pensou e falou naquele jeito baixo. “Quando alguém de vocês falar com o Rapaz, experimente perguntar porque é que ele não quer, mas espreitem bem para dentro dos olhos dele. Talvez ajude a aperceber e a sossegar o medo que ele deve sentir, e para que o Rapaz veja nos vossos olhos que vocês querem que ele queira, porque, talvez, ele não saiba isso”.
2 comentários:
Eu costumo ler bastante, ou melhor talvez seja uma falácia, costumava ler bastante, recordo-me claramente de quando não tinha computador, e em vez de ter acesso à World Wide Web, me entretinha a ler. Recordo-me, com aquele relembrar enevoado e longínquo de uma colecção que a minha mãe adquiriu de onde faziam parte: Tolstoi, Dorian Gray, Oscar Wilde, Dante, Shakespeare, Fiodor Dostoievsky, Edgar Alan Poe, Niestche e outros Digníssimos Senhores da Literatura e a impressão que fica, a emoção que surge associada é a de uma imersão, um mergulhar no mundo das letras, emergindo à superfície de quando em vez. É com alguma nostalgia que recordo esses tempos, especialmente porque embrenhava-me nos livros, e sentia me na história. Hoje, quiça vítima da eterna aritmética que agrilhoa os meus tempos livres, tenho que contabilizar o tempo que passo a ler, e entrecortá-lo com o trabalho universitário (de estudante universitário) porém o tempo é uma nova fuga à questão, a verdade, uma de cariz mais central, de foco nuclear. A realidade é que existem poucos escritores que me façam sentir maravilhado, surpreendido e ansioso por ler mais. E deixe-me que lhe diga, por momentos enquanto lí o seu texto, tinha 13 anos outra vez.
Obrigado.
Obrigado, Marco, as letras serão sempre mágicas, inventam mundos
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