Era uma vez um homem chamado Benemérito. Muita gente na terra onde o homem vivia gostava dele. Gosta-se sempre de um Benemérito como é fácil de perceber. Além de se chamar Benemérito o homem tinha uma história que traduzia uma dos grandes desígnios das pessoas daquela terra, nascer no nada e chegar a homem de muitas posses. De facto, o homem ao crescer e sentindo-se um empreendedor assumiu que sendo Benemérito teria de cumprir o destino e para isso precisava de fazer fortuna, só os Beneméritos com fortuna podem ser beneméritos. Percebendo que vivia numa terra de desperdícios começou a juntar aquilo que os outros deixavam de utilizar vendendo esse desperdício para que novas coisas fossem feitas a partir dos desperdícios.
A partir de certa altura, o Benemérito percebeu que havia muita gente naquela terra que a troco de umas ofertas lhe arranjava mais desperdício, lhe arranjava uns negócios especiais e uns esquemas assim mais esquisitos que lá naquela terra se usavam muito.
E assim tudo correu bem, o Benemérito chegou à fortuna, os seus muitos “amigos”, gente importante, iam recebendo “prendas” cada vez mais valiosas pela colaboração nos “negócios” e o Benemérito podia finalmente cumprir o nome, ser benemérito.
Ajudava os mais pobres em alguma coisinha, contribuía para a cadeira de rodas da pessoa com deficiência, uns aquecedores para o lar dos velhos, deu uma ajuda para a compra da ambulância dos bombeiros lá terra, até dava uns almoços de vez em quando numa das suas muitas casas e, claro, não se esquecia do clube de futebol. O Benemérito preparava-se assim para chegar ao topo da carreira de um benemérito, o nome numa rua da terra.
De repente o mundo desabou, apareceram uns polícias com a Face Oculta e levaram o Benemérito preso por causa dos muitos negócios esquisitos em que se metia com a ajuda dos “amigos” que recebiam prendas.
O povo daquela terra ficou desolado e disse-o nas televisões e aos jornais que apareceram a saber dos pormenores. “Não está certo, uma pessoa tão boa e agora presa, dá tanta coisa. Tanta gente má por aí à solta e logo haviam de prender o Benemérito”, “Só prendem pessoas boas”, “Quem é que vai ajudar a nossa terra agora?” O Benemérito já não está preso, pode até acontecer que já não volte a estar.
É assim o povo daquela terra, Portugal, amigo do seu amigo, na fortuna e na desgraça. Coitado do Benemérito.
Estou certo que ainda voltará a ajudar muita gente com as suas prendas.
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