Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias que em chove ponho-me a pensar que não sou só eu que vivo arreliado. Depois, o cheiro da terra molhada é que me faz de novo animar.
(Almada Negreiros)
Já chove no Meu Alentejo. A terra gretada pela secura que parecia chorar lágrimas secas pela chegada da chuva, as lágrimas molhadas, já liberta o inconfundível cheiro de que falava o Mestre Almada e que me deixa mais animado.
Durante toda a noite que passou e o dia de hoje choveu uma chuva bem chuvida, entra direitinha na terra, linda, nem veio a água de pedra que os homens da meteorologia anunciavam e que faria estragos.
Ouvia e ficava na dúvida, seria a chuva no telhado ou a terra a cantar depois de tantos meses de secura.
A terra está a ficar bem ensopada, ainda não dá para chegar às nascentes nem para fazer correr os ribeiros, mas os pastos vão gostar. Pode ser que ainda não esteja tudo perdido. O Velho Marrafa diz que os meses da erva são Abril e Maio, oxalá se confirme.
Esta chuva veio também lavar o pó e tudo ficou mais bonito, mais vivo, mais contrastado.
Por outro lado, creio que a secura não afecta só a terra. Sinto que as pessoas também se sentem secas, já com pouco para dar, cansadas, ansiosas porque alguma coisa mude, às vezes nem sabendo exactamente o quê. Creio que cada um de nós gostaria que mudassem coisas diferentes, mas que mudassem. Um problema sério é que também a confiança no futuro parece seca como a terra.
A terra vai ficar melhor, já chove no Meu Alentejo. E nós, as pessoas?
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