No Público pode ler-se que os professores têm "salário mais alto que os trabalhadores com a mesma qualificação". O título, aliás estranho, pois compara professores com trabalhadores, donde deve entender-se que os professores têm uma espécie de ocupação de tempos livres bem remunerada, decorre de um estudo da OCDE Preparing Teachers and Developing School Leaders for the 21st Century, que toma como valor comparativo um profissional com 15 anos de carreira.
Este estudo recupera dados do Relatório Education at a Glance de 2011, que já na altura mereceu algumas notas. Vejamos algumas breves reflexões.
Em primeiro lugar, não se consideram outros aspectos extremamente significativos inerentes à profissão professor. A título de exemplo, muitos milhares de professores têm muitos anos de serviço e não integram os quadros do MEC pelo que a sua condição de contratado se repercute nas remunerações e na ameaçadora situação de "descartável" ou ainda muitos outros que têm horários incompletos que os obrigam, por vezes, a pagar para trabalhar.
Seria necessário que o estudo analisasse quantos professores portugueses estão em cada escalão da carreira e não se usasse apenas como referência um professor do quadro com 15 anos. Os escalões iniciais têm níveis de remuneração muito baixos pelo que se tudo fosse considerado os resultados não seriam da mesma natureza. Lembro-me do gasto exemplo de que se considerarmos duas pessoas, uma das quais comeu dois frangos, a média dará o consumo de um frango por pessoa.
Não é este o espaço nem a forma ajustada para um tratamento adequado da questão, mas a informação que se reclama de referência não pode ser "preguiçosa", por assim dizer, e lançar informação avulsa que vai ao encontro de algo que frequentemente aqui abordo, os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso do ME, algum do discurso produzido pelos próprios representantes dos professores, o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, e uma imprensa mal preparada na abordagem a muitas matérias e com agendas que nem sempre são claras.
Estes ataques, intencionais ou não, sublinho, têm contribuído para uma desvalorização significativa da imagem social dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, designadamente de alunos e pais.
Esta desvalorização é um sério contributo para muitos dos problemas, designadamente ao nível da autoridade percebida nos professores, que afectam o nosso sistema educativo.
Devo, no entanto, reconhecer que "bater" nos professores, essa malandragem a quem entregamos os nossos filhos, resulta sempre, vende bem.
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