quinta-feira, 22 de março de 2012

DIFICULDADES E DESCONTENTAMENTO GERAL, GREVE NEM TANTO

Desta vez não teremos o habitual campeonato de audiências em torno os números de adesão à greve. O Governo, numa jogada política óbvia, retirou-se do jogo, deixando a bola com o adversário. Deve sublinhar-se a forma pouco aceitável do ponto de vista democrático escolhda para "não ir a jogo", pura e simplesmente proibiu as empresas públicas  de transportes de fornecerem elementos de informação. Como exemplo de prática democrática, transparente e respeitadora do direito à informação é, no mínimo discutível.
Ainda assim, teremos, começou logo cedo, a afirmação das estruturas representativas dos trabalhadores dos altíssimos níveis de adesão à greve, apesar dos custos económicos para muitos trabalhadores, um dia de salário.
Do meu ponto de vista, mais do que uma contabilidade que nunca será objectiva da adesão, importa atentar na existência de razões fortes para o protesto e descontentamento que estejam para lá das diferentes agendas partidárias e da conflitualidade de interesses neste cenário, a luta dentro da partidocracia.
Como de uma forma sintética afirmei em resposta a uma pergunta do Público, se haveria, ou não, razões de protesto em Portugal, existem e muitas, aliás, até considerei "provocatória" a pergunta.
Temos cerca de 2,7 milhões de portugueses em risco de pobreza, a União Europeia reconhece que as medidas de austeridade que têm vindo a ser promovidas conduzem a um aumento da disparidade entre os mais ricos e os mais pobres, temos 19% de desempregados, sendo que sobe para 35 % entre os mais jovens.
Sabemos que os cortes nos recursos afectados aos apoios sociais são manifestamente insuficientes para minimizar de forma significativa as dificuldades de muitas pessoas o que faz aumentar exponencialmente os pedidos de ajuda junto das instituições de solidariedade social que, por sua vez, também não têm recursos para responder.
Como ontem se retratava no Público, os problemas na área da saúde são muitíssimos graves com acréscimo de custos, cortes nos meios disponíveis, constrangimentos graves na acessibilidade aos serviços, consultas e medicamentos por parte de uma população, boa parte dela envelhecida e sem recursos económicos suficientes.
Neste quadro, ainda assim reduzido nas questões referidas, releva a existência clara de um descontentamento geral, de um conjunto de enormes dificuldades que é também geral, isto é que me parece a substância, embora possamos discutir se a greve é geral, quase geral ou só um bocado geral.

4 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de o ver no Publico. Para mim foi o que escreveu menos e melhor.

Parabens.

Abraço
António Caroço

Zé Morgado disse...

Obrigado António,um abraço

Anónimo disse...

Olá Zé!

Concordo de uma forma geral com o que disse, pois com o que vai acontecendo (desemprego aumentar etc), as coisas não estão bem, e por isso temos direito a reclamar.

Contudo, usar de mecanismos de greve para reclamar sobre algo tão subjectivo como ideias politicas, nao sei se realmente ajuda. Especialmente porque neste caso o governo é recente logo só se saberá se o mesmo tem razão das politicas tomadas no final da magistratura.
Quem sabe se não precisavamos de bater no fundo para depois crescer vigorosamente. E se assim for? Não “estaremos” a prestar um mau serviço em fazer greves como forma de reclamação?

Penso que deveríamos antes defendermos manifestações de opiniões (sem greves), e só depois de uma magistratura de reclamações sérias. Das que no caso de maioria negativa fizessem com que os politicos de governo fossem dispensados como se faz com os treinadores de futebol! Isso é que era! Afinal não têm todos eles outras profissões ou pelo menos "canudos"?

Mais ainda, não estou certo da existência de manifestações a chegarem a algum lado. Só sei de uns quantos casos muito diminutos que devido a serem muito especificos chegaram a algum lado!

Contudo temos de ter cuidado pois concerteza que há por aí pessoas que sem culpa nenhuma estão desesperadas ou sofrem na pele consequencias muito más! Por esses dá vontade de reclamar!

Em resumo isto é tão complexo que por vezes sinto que reclamando ou não, a politica nunca melhora, tem dias!

Tenho de ir fazer o meu papel na sociedade! Que é trabalhar e bem, para que com isso ajude o país a ajudar quem precise!

Abraço!

Ass: Etíope

Zé Morgado disse...

É verdade João, no entanto, a questão é a existência de fortíssimas razões de descontentamento com gente atravessar sérias dificuldades.