Como já tenho escrito, em Portugal, e não só, a pegada ética começa a ser extraordinariamente pesada e com custos tangíveis e não tangíveis de enorme expressão e significativas consequências.
Este recente exemplo da “orientação” dada pelo governo às empresas públicas da área de transportes, no sentido de não divulgarem os números de adesão à greve geral de dia 22 é apenas mais uma marca dessa pegada ética.
Do meu ponto de vista, não é relevante a discussão sobre a forma, isto é, se existe, ou não, cobertura legal para tal “orientação”.
A questão essencial é se existe cobertura ética para que se não divulgue informação que naquele contexto específico parece relevante. Creio que não existe, em sociedades democráticas, abertas e transparentes só informação classificada não será objecto de divulgação pública, o que não é, manifestamente o caso.
Em bom rigor e como já escrevi trata-se de uma decisão que se inscreve no confronto político da espuma dos dias. Procura esvaziar a habitual e inconsequente “guerra de números” entre o governo e os promotores da greve.
Ao retirar-se do jogo, o Governo deixa o adversário a “falar sozinho” o que, naturalmente, serve os seus interesses, embora, do meu ponto de vista, o que possa ganhar é bastante menos do que aquilo que perde.
A questão é que este tipo de comportamentos se inscreve nos preocupantes sinais sobre a saúde da nossa democracia.
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