“Estas crianças não param”, é uma das mais frequentes afirmações dirigidas ao comportamento das crianças. Na verdade, apesar da frequência da sua utilização, parece-me desajustada pois, de facto, as crianças não se mexem.
No Público pode ver-se a referência a um estudo que envolveu mais de 20 000 crianças e adolescentes de diferentes países, incluindo Portugal, e que evidencia, sem surpresa, o impacto positivo da actividade física na saúde dos mais jovens. O estudo reforça, naturalmente, o risco do sedentarismo.
Dados que têm sido divulgados pelo Observatório da Actividade Física e do Desporto vão também no sentido sublinhar a preocupação com o sedentarismo das crianças, mas não só. A título de exemplo, recordo que apesar da simpatia do clima somos um dos países com menor prática de actividades de ar livre.
De facto, e retomando o equívoco enunciado no início do texto, tenho para mim que o quotidiano de crianças e adolescentes está excessivamente preenchido com actividades que solicitam pouca actividade física, numa escola a tempo inteiro em que, muitas vezes, passam horas sem fim enfiados em salas com actividades “fantásticas” sempre sentados ou, quase, parados. Em casa, o cenário é do mesmo tipo só que em frente de um ecrã. Os estudos comprovam que o nível de actividade física de crianças e adolescentes está francamente abaixo do desejável para a sua faixa etária sendo, aliás, mais satisfatório em adultos e também baixo para os idosos. Por outro lado, este é o equívoco a que me referia, instalou-se a “ideia” de que as crianças e adolescentes não param, são muito activas, até mesmo hiperactivas” pelo que os desejos de muitos pais e professores é que estejam mais “calmas”, mais “sossegadas” e não tão “activas”, às vezes até se medicam para que se aquietem.
É exactamente o contrário, dados apresentados no XIV Congresso Português de Obesidade, referem que 22.6 % das crianças dos 10 ao 18 anos estão em situação de pré-obesidade e 7.8 % já são obesos, para além da óbvia menor qualidade de vida que níveis baixos de actividade provocam.
Por isso e de uma vez por todas, que crianças e adolescentes não parem, que as não enfiem em salas de aulas 8 a dez horas por dia e que se ajude os pais e as comunidades a construir alternativas que sejam atractivas para os tempos dos mais novos. É uma questão de saúde, física e mental, para crianças e adolescentes e, também, para os adultos que lidam com eles.
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