Confesso a minha ignorância e desatenção face a algo que deveria conhecer. Ao fim da tarde terminava a leitura dos jornais com o Telejornal em fundo. Às tantas, oiço uma referência a bebés renascidos e a curiosidade levou-me ao ecrã. Fiquei perplexo, passava uma peça dedicada aos "bebés renascidos", bonecos com aparência humana, esculpidos de forma realista e que as pessoas tratam com um desvelo de quem trata de bebés humanos, ou mesmo com mais desvelo.
Uma senhora entrevistada a quem a filha tinha oferecido um "bebé renascido", mostrava-o ao seu colo e falava com um ar perfeitamente sério da forma com o boneco lhe parecia real e o tratava como tal.
Nesta altura já me beliscava. Apareceu ainda um apontamento, creio que dos EUA, tinha de ser, em que uma "mãe" com ar alucinado referia que transportava o seu "reborn baby" num carro de bebé para um passeio pelo jardim.
Ouviu-se entretanto uma senhora apresentada como "escultora" destes "tamagochis" de última geração, que se referia à qualidade do produto e ao interesse que suscitam, não percebendo, aliás, o que de esquisito possa achar-se em tal fenómeno.
A peça incluiu um comentário de Eduardo Sá referindo a estranheza, leitura e riscos envolvidos na relação com os "bebés renascidos". A peça fechou com nova visão e discurso idílicos da primeira senhora sempre com o seu "bebé renascido" ao colo, mostrando a sua dificuldade em explicar a sensação e prazer que esta experiência arrebatadora lhe proporciona.
Fiquei sem palavras, esta sim, foi a notícia. O resto, assaltos variados, dificuldades económicas, eleições na Rússia, etc., não passam de banalidades ao pé deste extraordinário exemplo de como a nossa necessidade de disparate é impossível de satisfazer, roubando algumas palavras a Stig Dagerman.
Ainda há pessoas felizes, ou não.
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