Umas das expressões com que mais convivia nos meus tempos de miúdo na casa familiar era o "prémio". Já vos tenho dito, o meu pai foi serralheiro nos estaleiros do Arsenal do Alfeite. Em algumas alturas ele chegava contente a casa e dizia que ia começar um trabalho a prémio. Tanto quanto me lembro aparecia alguma tarefa mais urgente e as chefias decidiam propor a recompensa do trabalho feito em prazos mais curtos do que seria habitual.
O que nos mais deixava mais satisfeitos era que o prémio ia direitinho para as poupanças familiares que permitiam a participação numa excursão a realizar no Verão, quase sempre organizada pelo Sr. Fernando, o sapateiro, que, às vezes, até nos levava ao estrangeiro, a Sevilha ou a Badajoz, viagens longínquas, deve dizer-se, para os nossos horizontes da altura é claro.
Actualmente, a ideia do trabalho a prémio generalizou-se, sofreu mudança de nome, chama-se incentivo ou, de forma mais sofisticada, trabalho por objectivos, tudo isto, é claro, em nome da produtividade exigida pelo deus mercado.
De tal forma se generalizou, que chegou aos mais miúdos que cada vez mais são pressionados para a produção e ao nível da excelência. Esta excelência que é exigida é extensiva a todas as áreas em que os miúdos se envolvem, têm de ser excelentes a tudo.
Tal como se verificava com o meu pai, em muitas situações esta pressão sobre os miúdos é "envolvida" em incentivos que assumem valores e número diferentes, podem ser quase diários ou mais diferidos no tempo, mas muitos pais estão a começar agora o plano de incentivos, prémios, uma vez que o ano escolar está a aproximar-se da sua fase crítica, a das grandes decisões.
Todos conhecemos as promessas enunciadas que vão do prémio grande no resultado final até ao pagamento em géneros ou espécie por comportamentos ou resultados escolares atribuídos com muita regularidade.
Também sabemos como muitos miúdos são bons negociadores e conseguem excelentes contrapartidas, prémios, incentivos o que lhes quisermos chamar e, como os meus pais, arranjam uns extras para acederem aos sonhos que outros preocupados com a produtividade lhes impingem.
No fundo, estamos todos a prémio, cada vez mais.
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