No Público noticia-se uma iniciativa da Associação de Pais do Externato de Penafirme em Torres Vedras, que através de um grupo de pais voluntários providenciam ajuda de natureza escolar a alunos que dela possa necessitar e cujos pais sintam dificuldade em proceder a esses apoios ou em aceder às "explicações", um nicho de mercado.
Este grupo de pais deslocam-se a 10 colectividades da zona, onde trabalham com os miúdos incluindo, para além dos aspectos escolares, dimensões relativas à formação pessoal e social como comportamentos e solidariedade.
Esta iniciativa, "Estudar dá futuro" que não é inédita, outras estruturas de pais têm desenvolvido actividades da mesma natureza, suscita algumas notas.
Em primeiro lugar, creio que é de sublinhar o empenho de alguns pais que, em regime de voluntariado, se disponibilizam a ajudar nas aprendizagens escolares outras crianças, alargando a sua acção educativa a outros aspectos.
No entanto, do meu ponto de vista, é importante não perder de vista que os pais não devem substituir os professores, nem os professores devem esperar, ou desejar, que os pais os substituam.
As aprendizagens escolares são da competência da escola e a sua aquisição pelos alunos não deve estar dependente da capacidade pedagógica ou didáctica dos pais, os dos alunos ou de outros pais. Muitos, não terão níveis de escolaridade que lhes permitam acompanhar a vida escolar o que contribui para manter ou aumentar desigualdades entre os miúdos.
A acção dos pais pode ter um papel positivo noutras crianças e na ajuda a outros pais, em dimensões contributivas para melhor desenvolvimento dos miúdos e apoio à educação familiar, mas a sua prestação como explicadores deve, creio, ser vista com alguma precuação.
Dir-se-á que o recurso a explicadores é prática comum, muitas famílias não terão capacidade económica para o suportar, sobretudo num tempo de grandes dificuldades e, por isso, este tipo de ajuda de outros pais vem dar um preciosa ajuda. Entendo, mas sustento que a escola deve evitar colocar as aprendizagens dos alunos dependentes do "trabalho docente" feito em casa, seja por quem for.
Finalmente, volto a sublinhar que acho interessante o empenho de pais em providenciar ajuda a outros miúdos que não os seus, relembrando o velho provérbio africano, "para fazer uma casa chegam quatro homens, para educar uma criança é preciso uma aldeia".
2 comentários:
Eu entendo o seu entendimento e entendo o seu (mas...)e estou plenamente de acordo.
Mas, agora diga-me por favor; Acha que o corpo docente aceitará de bom agrado e sem fazer contra-vapor a generalização de tais iniciativas ?
O tal nicho de mercado que o Professor fala e que é praticamente monopólio dos professores é também demasiado importante para os proventos dos mesmos.
Pode-se dizer que é UMA INICIATIVA COM MORTE ANUNCIADA.
saudações
Não creio, existem muitos miúdos que devido à forma como a escola, por vezes, lida com os trabalhos de casa que experimentam dificuldades que os seus pais não conseguem ajudar nem pagar a ajuda. Um apoio gratuito pode ser bem recebido. No entanto, pese a generosidade da iniciativa o probema está a montante, ou seja, o que a escola pede aos miúdos que façam em casa.
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