Ainda na sequência da
participação no debate de ontem sobre os tratos e as circunstâncias de vida de
algumas crianças e adolescentes mais uma notas breves.
Os tempos estão difíceis e
crispados para muitos adultos e também para os
miúdos a estrada não está fácil de percorrer.
Alguns vivem, sobrevivem, em
ambientes familiares disfuncionais que comprometem o aconchego do porto de
abrigo, afinal o que se espera de uma família.
Alguns percebem, sentem, que o
mundo deles não parece deste reino, o mundo deles é um bairro insustentável
que, conforme as circunstâncias, é o inferno onde vivem ou o paraíso onde se
acolhem e se sentem protegidos.
Alguns sentem que o amanhã está
longe de mais e um projecto para a vida é apenas mantê-la.
Alguns convencem-se ou sentem que a escola
não está feita para que nela caibam.
Alguns sentem que podem fazer o que
quiserem porque não têm nada a perder e muito menos acreditam no que têm a
ganhar.
Alguns destes miúdos carregam diariamente uma dor de alma que sentem mas nem sempre entendem ou têm medo de entender.
Não, não tenho nenhuma visão
idealizada dos miúdos nem acho que tudo lhes deve ser permitido ou desculpado.
Também sei que alguns fazem coisas inaceitáveis e, portanto, não toleráveis. Só
estou a dizer que muitas vezes a alma dói tanto que a cabeça e o corpo se
perdem e fogem para a frente atrás do nada que se esconde na adrenalina dos
limites.
Espreitem a alma dos miúdos, sem
medo, com vontade de perceber porque dói e surpreender-se-ão com a fragilidade
e vulnerabilidade de alguns que se mascaram de heróis para uns ou bandidos para
outros, procurando todos os dias enganar a dor da alma.
Eles não sabem, eu também não, o
que é a alma. Um gaiato dizia-me uma vez, “dói-me
aqui dentro, não sei onde”.
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