Também em Lisboa se realizou uma
Marcha pela Ciência, integrada numa iniciativa global que assume a defesa da
ciência, do conhecimento científico face à deriva assente e traduzida nos “factos
alternativos” tão promovida pela presidência dessa figura assustadora que é
Donald Trump. São múltiplos os exemplos em que nos discursos de elementos com
responsabilidades políticas são negadas evidências científicas o que em alguns
domínios pode mesmo vir a ter consequências desastrosas, caso, por exemplo, das
alterações climáticas.
No entanto, este fenómeno não é
recente nem um exclusivo da sociedade americana e envolve mesmo pessoas com
formação científica de nível superior. Na verdade há muito tempo que me vejo
envolvido em situações curiosas, para ser simpático.
Quando me envolvo em alguma
discussão com pessoas com formação em áreas diferenciadas que não as Ciências
Sociais, designadamente Educação ou Psicologia, áreas que conheço melhor, sobre
matérias do seu universo de formação ou intervenção, percebo com clareza alguns
dos meus interlocutores tendem a desvalorizar o que exprimo pois não lhe
reconhecem “saber” ou “ciência”, apenas opinião.
Por outro lado, quando falo de
assuntos da minha área de estudo de décadas, Psicologia e Educação, qualquer
que seja a sua formação, muitos dos interlocutores afirmam com a maior das
convicções opiniões sólidas e seguras sobre o que está em discussão e assumem
com toda a segurança essas opiniões como “saber”.
Quando era mais novo ainda
tentava argumentar com base no que a ciência nestas áreas, a evidência como é
designada, vai produzindo mas, dada a falta de efeito, vou desistindo.
Na verdade, “mete-me espécie” que
engenharia, biologia, economia, medicina, etc., etc., sejam áreas de “saber” e
que educação ou psicologia sejam percebidas não como áreas de saber mas como
áreas de opinião que, naturalmente, qualquer pessoa pode expressar e, assim,
passar a ser “saber”.
Aliás, até já tenho visto
referências às Ciências da Educação escritas com aspas e, frequentemente, com
sentido pejorativo. Foi patente nos últimos anos a emergência de discursos
diabolizando as “ciências da educação” identificando-as como o eixo do mal
responsável pelo que de mau vai acontecendo no mundo da educação. Elucidativo.
Seria estranho, no mínimo, alguém afirmar que o que se sabe e estuda em
engenharia num qualquer ramo é prejudicial … à engenharia
É estranho que o que eu afirmo
dentro da minha área não seja percebido como saber, não seja percebido como
ciência, seja uma opinião e, como tal, passível de discussão com base noutra
opinião enquanto o discurso do meu interlocutor sobre a sua área de intervenção
seja “saber” pelo que um leigo como eu não o pode abordar de forma séria.
Não é grave que se construa
opinião sobre qualquer assunto da nossa vida. É desejável e estimulante para
toda a gente que assim seja. O que me embaraça é que se entenda que opinião é
ciência ou, quando convém, que a ciência não é ciência é opinião e como tal
deva ser tratada.
Aliás, esta visão pareceu informar a política científica dos últimos anos em que no quadro de um desinvestimento na investigação e da ciência as ciências sociais foram profundamente atingidas, não produzem "bens, patentes ou serviços" como dizia o Ministro da Economia do Governo anterior.
Aliás, esta visão pareceu informar a política científica dos últimos anos em que no quadro de um desinvestimento na investigação e da ciência as ciências sociais foram profundamente atingidas, não produzem "bens, patentes ou serviços" como dizia o Ministro da Economia do Governo anterior.
Ao fim de quarenta anos de lida
já estou mais habituado mas lá que me continua a incomodar ... continua.
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