A lida levou-me hoje para Leiria um
encontro de reflexão sobre diferença, educação, formação e ... sonhos.
A solicitação direccionava a minha
intervenção para o trajecto de vida das pessoas com necessidades especiais.
Em síntese e como também aqui já
tenho dito, parto da ideia de que o processo de desenvolvimento, educação e
formação terá de se traduzir na construção de um projecto de vida positivo
assente na autonomia, independência e autodeterminação de qualquer pessoa, de
todas as pessoas.
De acordo com os dados do ME
cerca de 98% de crianças e adolescentes com necessidades especiais frequentam o
ensino regular mas uma parte estará incluída, outra parte integrada e boa parte "entregada".
Mas após a escolaridade obrigatória temos um cenário em que o
desemprego entre as pessoas com deficiência se estima situar-se entre os 70 e
os 75%, o risco de pobreza é superior em 25 % à restante população, que o número
de pessoas com deficiência a frequentar o ensino superior ou escolas
profissionais é baixo, refiro um pequeno exemplo que poderá não ser representativo
mas é elucidativo. Há algum tempo pronunciei-me sobre um trabalho académico que analisou a situação
de 13 adultos com paralisia cerebral e encontrou duas pessoas empregadas, 3
desempregadas e os outros nunca trabalharam. Três pessoas têm formação superior e
nove estão institucionalizados. Há dias integrei um júri de provas de doutoramento que também acompanhou a entrada fracassada de estudantes surdos no ensino superior tendo tido sucesso no ensino secundário.
É de facto um cenário profundamente inquietante
levantando duas vias de reflexão.
A primeira remete para o que
fazemos durante o período de escolaridade obrigatória cuja parte final se
direcciona para a transição para a vida activa que, do meu ponto de vista
deveria significar, formação, emprego ou continuação do percurso escolar.
Parece, de facto verificar-se a transição mas a verdade é que poucos transitam
para qualquer das direcções que referi. O desafio que se coloca é perceber, assumir o
que está a falhar neste processo. Existem situações, felizmente, bem-sucedidas
mas o quadro geral não é particularmente animador em demasiadas circunstâncias.
A segunda via de reflexão remete
para o depois dos 18 anos. Como promover de forma mais eficaz e com sucesso a
passagem de mais jovens com necessidades especiais, de todas as tipologias
sublinho, para o ensino superior, como conseguir que a formação profissional disponível
seja acessível e capaz de acomodar a diversidade, como promover o emprego
considerando, por exemplo, a dimensão do universo da economia social.
Como promover o respeito pela
autonomia, independência e autodeterminação minimizando visões
assistencialistas mesmo que mascaradas com uma retórica de natureza mais
inclusiva com referências à participação e pertença.
Como promover a ideia de que as instituições
são um enorme e importantíssimo recurso mas não uma via embora também o possam
ser para um grupo muito mais restrito de jovens adultos e adultos com deficiência.
Recordando a forma como acabei a
minha intervenção, podemos sempre olhar para o caminho percorrido e centrar o
olhar no copo meio cheio. No entanto não podemos esquecer a parte meio vazia, é
habitada por muita gente com sede.
Sem comentários:
Enviar um comentário