sexta-feira, 21 de abril de 2017

O PERFIL DO ALUNO, O CNE E A MUDANÇA NAS PRÁTICAS

O Conselho Nacional de Educação emitiu um parecer sobre o Perfil dos Alunos para o Séc. XXI. Do conjunto de apreciações produzidas registo a recomendação 5. “Sejam ponderadas as implicações do documento na organização do sistema educativo, nomeadamente ao nível do currículo, das práticas pedagógicas e da formação inicial e contínua dos professores.
Parece importante esta matéria vai no sentido que também oportunamente aqui escrevi e que retomo.
O que se pretende, a meu ver bem, com o Perfil dos Alunos para o Séc. XXI. Será desenvolvido com que organização curricular, conteúdos e cargas horárias, por disciplina e globais? Com que quadro de autonomia? Com que dimensão das turmas e das escolas? Eu sei que nem todas são excessivamente grandes mas algumas são.
Com que ajustamento em práticas, capacidade e recursos de promover diferenciação para acomodar a diversidade dos alunos e promover um menor peso dos manuais no trabalho de alunos e professores?
Tudo isto será desenvolvido com que modelos e dispositivos de avaliação de alunos, professores e escolas?
Com que impacto na formação inicial e contínua e na organização da carreira dos professores, designadamente do espartilhado modelo dos grupos disciplinares?
Apesar de algumas orientações temos ainda demasiadas destas questões sem resposta clara.
Uma segunda nota remete para a questão mais específica mas central das práticas pedagógicas.
A característica mais evidente de qualquer sala de aula ou escola é a diversidade. Em muitas conversas que realizo com pais pergunto aos corajosos que têm mais que um filho se os tratam da mesma maneira. Nunca alguém me responde que sim e se pergunto porquê, respondem com um ar óbvio qualquer coisa como “então, eles são diferentes”.
Esta é questão central, com grupos diversos e escolas diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada sob pena de não acomodar as diferenças entre os alunos. Não tem só a ver com o Perfil do Aluno para o Séc. XXI, tem a ver com qualidade e inclusão.
Esta diferenciação começa na organização e funcionamento das escolas, dos horários, das turmas, da gestão curricular e caminha até á sala de aula ao nível das práticas nos seus diferentes aspectos.
Todo o sistema educativo e as políticas educativas, por exemplo a questão da autonomia, devem servir de suporte a esta visão.
Indo um pouco mais longe nas práticas pedagógicas e como nestas se traduz um princípio de diferenciação umas notas breves sublinhando que alterar alguns aspectos não tem a ver com “inovação”, termo cuja utilização frequente me irrita um bocado. A questão central pode ser alterar e não inovar.
Uma primeira nota sobre o equívoco habitual de que diferenciação é sinónimo de trabalho individual. Considerando as dificuldades (e o desajustamento) de fazer assentar o trabalho educativo no trabalho individual, encontra-se assim um suposto “impedimento” à diferenciação. De facto, diferenciar não é igual a trabalho individualizado, pelo contrário, implica muito fortemente a aprendizagem cooperada e a cooperação entre professores. Aliás, verificando-se desejavelmente aprendizagem individual por parte de cada aluno a sua construção é social pelo que mesmo que fosse possível o recorrer exclusivamente ao trabalho individual, que não é mesmo com turmas muito pequenas, não seria a melhor forma de trabalhar.
Sublinha-se, pois, que diferenciação não é igual a trabalho individualizado, pelo contrário, implica muito fortemente a cooperação e troca entre os alunos, bem como a cooperação entre professores.
Assim, só o desenvolvimento de formas diferenciadas de organizar os processos educativos, de gerir a sala de aula, de avaliar, de gerir a estrutura curricular, de comunicar, de cooperar com pais e encarregados de educação, etc. poderá permitir responder tão bem quanto possível à diversidade dos alunos e contextos.
Nesta perspectiva, a organização e funcionamento de uma sala de aula pode da forma mais ajustada a recursos e necessidades contemplar alguma foram de diferenciação em dimensões como: Planeamento educativo/gestão curricular; Organização do trabalho dos alunos – as múltiplas formas de organizar o trabalho dos alunos relativamente às situações de aprendizagem; Clima de aprendizagem – a qualidade e nível de interacção e relacionamento social entre alunos e entre professor e alunos; Avaliação – os processos relativos à avaliação e regulação do processo de ensino e aprendizagem; Actividades / Tarefas de aprendizagem – a escolha das diferentes tarefas ou situações de aprendizagem a propor aos alunos e Materiais e Recursos – a definição, utilização e gestão dos materiais e recursos que funcionarão como suporte ao processo de ensino/aprendizagem.
Como nota final sublinhar o que tantas vezes afirmo, um dos factores individuais mais contributivos para a qualidade dos processos educativos, é a presença de um professor empenhado e qualificado.

Sem comentários: