O Conselho Nacional de Educação
emitiu um parecer sobre o Perfil dos Alunos para o Séc. XXI. Do conjunto de
apreciações produzidas registo a recomendação 5. “Sejam ponderadas as
implicações do documento na organização do sistema educativo, nomeadamente ao
nível do currículo, das práticas pedagógicas e da formação inicial e contínua
dos professores.”
Parece importante esta matéria
vai no sentido que também oportunamente aqui escrevi e que retomo.
O que se pretende, a meu ver bem,
com o Perfil dos Alunos para o Séc. XXI. Será desenvolvido com que organização curricular,
conteúdos e cargas horárias, por disciplina e globais? Com que quadro de
autonomia? Com que dimensão das turmas e das escolas? Eu sei que nem todas são
excessivamente grandes mas algumas são.
Com que ajustamento em práticas,
capacidade e recursos de promover diferenciação para acomodar a diversidade dos
alunos e promover um menor peso dos manuais no trabalho de alunos e
professores?
Tudo isto será desenvolvido com
que modelos e dispositivos de avaliação de alunos, professores e escolas?
Com que impacto na formação
inicial e contínua e na organização da carreira dos professores, designadamente
do espartilhado modelo dos grupos disciplinares?
Apesar de algumas orientações
temos ainda demasiadas destas questões sem resposta clara.
Uma segunda nota remete para a
questão mais específica mas central das práticas pedagógicas.
A característica mais evidente de
qualquer sala de aula ou escola é a diversidade. Em muitas conversas que realizo
com pais pergunto aos corajosos que têm mais que um filho se os tratam da mesma
maneira. Nunca alguém me responde que sim e se pergunto porquê, respondem com
um ar óbvio qualquer coisa como “então, eles são diferentes”.
Esta é questão central, com
grupos diversos e escolas diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada
sob pena de não acomodar as diferenças entre os alunos. Não tem só a ver com o
Perfil do Aluno para o Séc. XXI, tem a ver com qualidade e inclusão.
Esta diferenciação começa na organização
e funcionamento das escolas, dos horários, das turmas, da gestão curricular e
caminha até á sala de aula ao nível das práticas nos seus diferentes aspectos.
Todo o sistema educativo e as
políticas educativas, por exemplo a questão da autonomia, devem servir de
suporte a esta visão.
Indo um pouco mais longe nas
práticas pedagógicas e como nestas se traduz um princípio de diferenciação umas
notas breves sublinhando que alterar alguns aspectos não tem a ver com “inovação”,
termo cuja utilização frequente me irrita um bocado. A questão central pode ser
alterar e não inovar.
Uma primeira nota sobre o
equívoco habitual de que diferenciação é sinónimo de trabalho individual.
Considerando as dificuldades (e o desajustamento) de fazer assentar o trabalho
educativo no trabalho individual, encontra-se assim um suposto “impedimento” à
diferenciação. De facto, diferenciar não é igual a trabalho individualizado,
pelo contrário, implica muito fortemente a aprendizagem cooperada e a
cooperação entre professores. Aliás, verificando-se desejavelmente aprendizagem
individual por parte de cada aluno a sua construção é social pelo que mesmo que
fosse possível o recorrer exclusivamente ao trabalho individual, que não é
mesmo com turmas muito pequenas, não seria a melhor forma de trabalhar.
Sublinha-se, pois, que
diferenciação não é igual a trabalho individualizado, pelo contrário, implica
muito fortemente a cooperação e troca entre os alunos, bem como a cooperação
entre professores.
Assim, só o desenvolvimento de
formas diferenciadas de organizar os processos educativos, de gerir a sala de
aula, de avaliar, de gerir a estrutura curricular, de comunicar, de cooperar
com pais e encarregados de educação, etc. poderá permitir responder tão bem
quanto possível à diversidade dos alunos e contextos.
Nesta perspectiva, a organização
e funcionamento de uma sala de aula pode da forma mais ajustada a recursos e
necessidades contemplar alguma foram de diferenciação em dimensões como:
Planeamento educativo/gestão curricular; Organização do trabalho dos alunos –
as múltiplas formas de organizar o trabalho dos alunos relativamente às
situações de aprendizagem; Clima de aprendizagem – a qualidade e nível de
interacção e relacionamento social entre alunos e entre professor e alunos; Avaliação
– os processos relativos à avaliação e regulação do processo de ensino e
aprendizagem; Actividades / Tarefas de aprendizagem – a escolha das diferentes
tarefas ou situações de aprendizagem a propor aos alunos e Materiais e Recursos
– a definição, utilização e gestão dos materiais e recursos que funcionarão
como suporte ao processo de ensino/aprendizagem.
Como nota final sublinhar o que
tantas vezes afirmo, um dos factores individuais mais contributivos para a
qualidade dos processos educativos, é a presença de um professor empenhado e
qualificado.
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