Acho sempre muito interessante a
ingenuidade voluntariosa com que muitos pais e outros adultos tentam instruir
os miúdos para que não digam asneiras ou “palavras feias” como também lhes
chamam.
Como sabemos todos, passámos por
esta estrada, não adianta, os miúdos aprendem as “palavras feias”, felizmente diria.
Já tenho causado alguns embaraços quando digo coisas como achar que aquelas
“palavras feias” não são palavras feias e também quando digo que, por vezes, é “bom” dizer
aquelas “palavras feias”, fazem bem ao nosso discurso e à nossa saúde mental. Trata-se
só de ajudar os miúdos perceber onde e com quem se podem dizer e os miúdos
aprendem isso muito bem se a forma como o fizermos for ajustada e firme.
Também digo que muitas vezes, não
estando em circunstância de dizer uma “palavra feia”, penso cada uma, o que me
permite, garanto-vos, ficar melhor.
Mas na verdade existem palavras
feias, agora sem aspas, algumas mesmo muito feias. Maltratar é uma palavra
muito feia. Abuso também é uma palavra feia. Desemprego é igualmente uma
palavra muito feia. Também acho que sofrimento é uma palavra feia, tal como
pobreza ou exclusão, são palavras terrivelmente feias. Outra palavra que me
parece muito feia é humilhação. Também acho ostentação uma palavra um bocadinho
feia. E há muitas mais, podem descobrir.
Mas tal como com as “palavras
feias” com aspas, também acho que estas palavras feias, sem aspas, devem ser
usadas, muito usadas e é importante que os miúdos ao crescer vão percebendo
também estas palavras feias se devem dizer. Pode ser que de tanto as usarmos
elas se gastem e desapareçam.
Não me digam que não posso sonhar
senão digo uma “palavra feia”.
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