Por estes dias, mesmo 43 anos depois, para as pessoas
da minha geração é impossível não falar do 25 de Abril, daquele 25 de Abril, do
nosso 25 de Abril, do meu 25 de Abril.
Há algum tempo, numa conversa
informal com alunos, jovens, do ensino superior, alguns questionavam-me sobre
como era a vida académica, e não só, antes desse 25 de Abril, o que felizmente acontece com alguma frequência. Ao procurar
dar-lhes um retrato desse tempo e do que era a nossa vivência diária, deu para
perceber alguma perplexidade nos jovens não tanto pelas referências às grandes
questões, mas, sobretudo, pelas pequenas histórias do dia-a-dia.
Histórias do clima de
desconfiança e suspeição sobre a pessoa do lado que nos prendia dentro da
gente; do livro que se não tinha; do filme que se não podia ver; do disco que
se contrabandeava; do teatro que não se podia fazer; da conversa que se não
podia ter; do professor de quem não se podia discordar; da ideia que se não
podia discutir; da repressão visível e, mais pesada, invisível; do beijo que não
se podia dar em público; do livro único para formar um pensamento único; de
tantas outras histórias com que se tecia um mundo pequeno que nos queria
pequenos.
Aquela conversa foi muito
estimulante. É certo que me deixou a doce amargura da idade mas, mais interessante,
fiquei convencido que aquele pessoal não permitirá nunca que se possa voltar a
ter histórias daquelas para contar a gente mais nova.
Acho até que esta gente, apesar
das enormes dificuldades que enfrentam para construir um projecto de vida viável
e sustentado, não vai mesmo estudar para ser escrava, esta gente vai, apesar de
por vezes se sentir à rasca, chegar ao futuro.
Gosto de acreditar nisto. Também
por causa daquele 25 de Abril.
E porque é mais fácil e mais
bonito, "Traz outro amigo também".
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