O Expresso desta semana apresenta
no caderno principal e na Revista duas peças centradas na educação a que vale a
pena dedicar alguma atenção.
A primeira peça é relativa a um
Projecto-Piloto de Inovação Pedagógica a desenvolver durante três anos em seis
agrupamentos de zonas diferentes do país e com o objectivo de promover o
sucesso educativo. Este Projecto é autónomo relativamente ao Programa Nacional
de Promoção do Sucesso Escolar.
A segunda peça divulga um
conjunto de experiências pedagógicas "na nova sala de aula" em desenvolvimento em
diferentes escolas.
Uma primeira nota introdutória. Não
simpatizo com a recorrente referência à inovação em educação. Mudar algo na
forma como se faz não é o mesmo que inovar, fazer qualquer coisa de novo. Nestas
matérias, talvez de forma simplista mas é intencional, penso como Almada
Negreiros quando referia na "Invenção do Dia Claro”, "Nós não somos
do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do
século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas”.
Dito de outra maneira, já
conhecemos as palavras da educação, apenas temos que ir ajustando o que fazemos
com elas. Peço desculpa, mas não creio que utilizar um tablet na sala de aula seja é inovar, é
fazer o que de há muito sabe, o trabalho em sala de aula deve reflectir o
estado da arte das comunidades em matéria de desenvolvimento científico, ou
seja, o tablet é “novo” mas a prática nem tanto.
Os dois trabalhos mostram também com
clareza o que do meu ponto de vista é central na promoção da qualidade na
educação e na qualidade para todos, autonomia e diferenciação, duas dimensões
críticas e interdependentes e que também têm pouco de "inovadoras" mesmo que possam estar relativamente ausentes em contextos escolares.
De facto, quer do PPIP quer das
experiências mostradas na Revista, sobressaem a importância da autonomia das
escolas e dos professores e, tantas vezes o refiro, a promoção da autonomia dos
alunos.
A segunda referência relativa à
diferenciação que começa na organização e funcionamento das escolas, dos
horários, das turmas, da gestão curricular e caminha até á sala de aula ao
nível das práticas, da avaliação.
Como parece claro o caminho da
diferenciação só se faz com base num quadro forte de autonomia de escolas e professores
o que claramente está patente no PIPP, pelo menos na apresentação e que
poderemos aferir com a publicação do despacho que o regulará.
Esta autonomia e diferenciação
exige algo que em décadas não se tem verificado, o ME precisa de confiar nos professores
e nas escolas que na sua esmagadora maioria são competentes e empenhados no
sucesso do seu trabalho e no trabalho dos alunos. Neste contexto e como também
tenho defendido seria fundamental a existência de dispositivos de regulação que
minimizassem o quadro actual, um sistema que deste ponto de vista é verdadeiramente
inclusivo, excelentes práticas e desempenhos coexistem sem sobressaltos e sem
que nada aconteça com situações deploráveis para professores, alunos e
famílias.
Parece-me ainda de sublinhar o
horizonte temporal da PPIP, três anos, que resiste à tentação do resultado
imediato que se pode habilidosamente construir mas não é real nem sustentado e
a intenção de avaliar e, se for o caso, replicar e alargar.
Este caminho, ainda que em fase "piloto" o que melhor permitirá a sua regulação e avaliação, parece estar a ser construído na direcção certa, assim tenhamos os meios, os recuros e o enquadramento em matéria de autonomia real que surja mascarada de "municipalização".
Este caminho, ainda que em fase "piloto" o que melhor permitirá a sua regulação e avaliação, parece estar a ser construído na direcção certa, assim tenhamos os meios, os recuros e o enquadramento em matéria de autonomia real que surja mascarada de "municipalização".
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