quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

TRUMPISMOS

A discussão pública do novo referencial da Educação para a Saúde envolvendo diferentes dimensões como alimentação, consumos, violência ou educação sexual levantou um enorme alarido. A possibilidade de ser abordada com os alunos a questão da interrupção voluntária da gravidez desencadeou uma tempestade que envolveu uma petição onde se lê algo de tenebroso e terrorista como “É um verdadeiro absurdo ensinar crianças que é legítimo e justo matar bebés no ventre materno”.
Por outro lado, a Juventude Centrista propõe que seja iniciada no 2º ciclo a “educação para a abstinência sexual”. Muito bem.
Umas notas breves.
Sendo a questão da sexualidade e, por tabela, a educação sexual uma questão altamente permeável a valores é natural e legítimo que suscite abordagens e visões diferentes até mesmo se a escola deve ter alguma função neste domínio.
Por outro lado, falando de valores, parece-me absolutamente crucial que não se questione o bem-estar de crianças e adolescentes permitindo, por ausência ou omissão de orientação e apoio, que os comportamentos de risco em várias áreas lhes possam causar problemas ou sofrimento.
Também me parece inegável que devido aos estilos de vida actuais, a reorganização dos papéis educativos daí decorrentes, por exemplo, o prolongamento até ao limite do aceitável da estadia das crianças e adolescentes na escola, faz deslizar para o interior dos espaços educativos formais muito do que em termos formativos faz parte da vida das crianças.
No entanto, a organização do comportamento social, o estabelecimento de regras e limites e a formação global dos indivíduos também está fortemente ligada a valores e ninguém contesta o papel da escola nesse domínio, aliás, a tendência é, por vezes de forma excessiva, responsabilizar quase que exclusivamente a escola por essa formação.
O contributo da escola em matéria de educação social assenta sobretudo em informação e na construção autónoma e informada duma relação com a sexualidade que seja positiva, informada e adequada.
Neste quadro, afirmações como a da petição que acima referi são parte do problema, não são parte da solução. A linguagem é de terror, não tem rigorosamente a ver com educação nem com bom senso.
A proposta da Juventude Centrista sobre a educação para a abstinência sexual é algo que me parece ter mais a ver com hipocrisia do que com educação sexual. Poder-se-ia dizer com a superioridade que os velhos reclamam, nem sempre com razão diga-se, “são jovens, não pensam”, mas será que também não f…?
Enfim, trumpismos de trazer por cá.

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