Nos tempos que correm julgo muito
interessante que todas as vagas disponíveis nas licenciaturas em Filosofia no
ensino público tenham sido preenchidas. É bom saber que as pessoas que agora iniciam a formação em Filosofia não se deixaram intimidar com as referências recorrentes
à sua baixa utilidade e também baixa empregabilidade.
Na verdade, nos últimos anos
emergiram discursos que de forma mais explícita ou implícita desvalorizam o
papel desta área. Mesmo ao nível da investigação científica e do seu
financiamento a área das Ciências Sociais foi arrasada pela crática negrura que
se abateu sobre o tecido científico e de investigação em Portugal.
A visão centra-se quase que
exclusivamente na empregabilidade e “utilidade” destas áreas científicas, as
Ciências Sociais e as Humanidades.
As Universidades tendem a ser
vistas uma escola profissional para as empresas o que assenta num equívoco
tremendamente perigoso, confundir desenvolvimento tecnológico com desenvolvimento
científico.
Este equívoco esteve claramente
presente na política de Nuno Crato para a ciência e investigação com o esmagamento
das Ciências Sociais e das Humanidades ou em discursos como do então Ministro
da Economia, Pires de Lima quando afirmava com preconceito e ignorância que é
preciso que a investigação (maioritariamente desenvolvida enquadrada pelas
universidades) "se traduza em produtos, marcas e serviços que possam fazer
a diferença no mercado e devolver à sociedade o investimento que fizemos".
Tal entendimento mostra mais uma
vez a ignorância sobre a ciência, o seu desenvolvimento e o papel fundamental
no desenvolvimento das sociedades, eliminando pura e simplesmente as ciências
sociais e das humanidades, evidentemente inúteis por não criarem
"produtos, marcas e serviços".
É evidente que a empregabilidade
e a transferência de conhecimentos para o tecido económico são dimensões a
considerar na organização da oferta formativa mas existe um conjunto vasto e
imprescindível de formação universitária de que não podemos prescindir com o
fundamento exclusivo no mercado de emprego. Podemos dar como exemplo justamente
a Filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido
universitário e social moderno e que cumpra o seu papel de construção e
divulgação de conhecimento e desenvolvimento em todas as áreas.
As universidades não podem ser o
departamento de formação profissional das empresas.
Uma sociedade com gente formada e
investigar nestas áreas é uma sociedade mais desenvolvida.
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