terça-feira, 13 de dezembro de 2016

MALDITA REALIDADE

Segundo dados do Eurostat referentes a 2014, Portugal é o país da UE com maior desigualdade entre os salários mais altos e o salário médio, dito de outra maneira, o rácio existente leva a que 10% dos salários mais altos são 2,8 vezes superiores ao salário médio.
A propósito de desigualdade recordo um recente trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos, "Portugal Desigual" sobre a desigualdade de rendimentos em Portugal nos últimos anos, os anos da crise.
Em termos médios, entre 2009 e 2014, os portugueses perderam 116€, 12%, de rendimento mensal.
No entanto, o grupo dos 10% mais pobres perdeu 25% do rendimento e os 10% mais ricos perderam 13% do seu rendimento. Dito de outra maneira e contrariamente à proclamação do velho slogan, “os ricos não pagaram a crise”.
Acresce que "os jovens com menos de 25 anos tiveram uma perda de 29% nos seus rendimentos o que como tantos de nós sabemos promove vidas precárias e inibe a construção de projectos de vida mobilizadores de futuro.
Talvez um dia, eu que sou um crente optimista nas qualidades do ser humano ainda consiga perceber a estranha convicção que boa parte da classe política com diferentes origens assume, sobretudo quando chega ao poder. Todo o seu discurso passa a assentar na ideia de que, “a realidade está errada, eu é que estou certo", ou seja, a "realidade passa a ser a projecção dos meus desejos”. Dito de outra maneira, assumem que a realidade não é ... real. O que pensam e o que afirmam é que está certo. Sempre.
Na verdade, esta gente, com mais ou menos habilidade, torturam dados, conhecimentos, informação e experiência e bombardeiam-nos sistematicamente até que, por exaustão ou acomodação, se convencem de que nos convenceram. A realidade, acreditam, rendeu-se, passou a ser exactamente aquilo que eles querem que seja.
O problema é que a maldita realidade teima em desmenti-los.
Alguns recordarão repetidas afirmações do ex-Primeiro-ministro negando que o maior impacto das graves dificuldades decorrentes do seu fundamentalismo austeritário era sentido pela população com menos rendimentos.
Muito provavelmente a fome e pobreza que tantos conheceram e conhecem inscrevem no recorrente discurso assente no papel redentor da pobreza e garante do céu.
Só para citar mais alguns dados, segundo a Cáritas Europa Portugal foi o país em que o risco de pobreza mais subiu em 2014 sendo que cerca de 25% de crianças estão nesta situação.
Mais de metade dos desempregados não acede a subsídio de desemprego. Foram cortados milhares de subsídios de abono de família e de outras prestações sociais como o rendimento social de inserção. Muitos milhares de famílias caíram na insolvência sobretudo em consequência do desemprego brutal que as esmagou.
Maldita realidade, sem ela tudo estaria tão bem.

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