Segundo dados do Eurostat
referentes a 2014, Portugal é o país da UE com maior desigualdade entre os
salários mais altos e o salário médio, dito de outra maneira, o rácio existente
leva a que 10% dos salários mais altos são 2,8 vezes superiores ao salário
médio.
A propósito de desigualdade
recordo um recente trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos,
"Portugal Desigual" sobre a desigualdade de rendimentos em Portugal
nos últimos anos, os anos da crise.
Em termos médios, entre 2009 e
2014, os portugueses perderam 116€, 12%, de rendimento mensal.
No entanto, o grupo dos 10% mais
pobres perdeu 25% do rendimento e os 10% mais ricos perderam 13% do seu
rendimento. Dito de outra maneira e contrariamente à proclamação do velho
slogan, “os ricos não pagaram a crise”.
Acresce que "os jovens com
menos de 25 anos tiveram uma perda de 29% nos seus rendimentos o que como
tantos de nós sabemos promove vidas precárias e inibe a construção de projectos
de vida mobilizadores de futuro.
Talvez um dia, eu que sou um
crente optimista nas qualidades do ser humano ainda consiga perceber a estranha
convicção que boa parte da classe política com diferentes origens assume,
sobretudo quando chega ao poder. Todo o seu discurso passa a assentar na ideia
de que, “a realidade está errada, eu é que estou certo", ou seja, a
"realidade passa a ser a projecção dos meus desejos”. Dito de outra
maneira, assumem que a realidade não é ... real. O que pensam e o que afirmam é
que está certo. Sempre.
Na verdade, esta gente, com mais
ou menos habilidade, torturam dados, conhecimentos, informação e experiência e
bombardeiam-nos sistematicamente até que, por exaustão ou acomodação, se
convencem de que nos convenceram. A realidade, acreditam, rendeu-se, passou a
ser exactamente aquilo que eles querem que seja.
O problema é que a maldita
realidade teima em desmenti-los.
Alguns recordarão repetidas
afirmações do ex-Primeiro-ministro negando que o maior impacto das graves
dificuldades decorrentes do seu fundamentalismo austeritário era sentido pela
população com menos rendimentos.
Muito provavelmente a fome e
pobreza que tantos conheceram e conhecem inscrevem no recorrente discurso
assente no papel redentor da pobreza e garante do céu.
Só para citar mais alguns dados,
segundo a Cáritas Europa Portugal foi o país em que o risco de pobreza mais
subiu em 2014 sendo que cerca de 25% de crianças estão nesta situação.
Mais de metade dos desempregados
não acede a subsídio de desemprego. Foram cortados milhares de subsídios de
abono de família e de outras prestações sociais como o rendimento social de
inserção. Muitos milhares de famílias caíram na insolvência sobretudo em
consequência do desemprego brutal que as esmagou.
Maldita realidade, sem ela tudo
estaria tão bem.
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