No DN de hoje aborda-se um dos
aspectos que merece séria atenção no nosso sistema educativo, o envelhecimento
dos professores e o desgaste e mal-estar que se faz sentir neste grupo profissional.
No que respeita ao
envelhecimento, segundo o Relatório “Perfil do Docente”, dados de 14/15,
divulgado pela Direcção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência há pouco tempo,
apenas 1.4% dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30
anos, não chegam a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.
Num país preocupado com o futuro
este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em
conformidade.
No que respeita al clima e bem-estar
recordo dois trabalhos que aqui referi na altura em que foram divulgados.
A primeira referência para os
resultados de um trabalho coordenado por Joaquim de Azevedo desenvolvido pela
Fundação Manuel Leão, “As preocupações e as motivações dos professores”.
Ao inquérito realizado
responderam 2910 docentes e a percepção que têm sobre os seus problemas, as
dificuldades, a falta de reconhecimento e valorização, a desmotivação traçam um
quadro preocupante. Os dados estão disponíveis, não cabem aqui mas importa
registar que estamos todos envolvidos nesta situação de mal-estar, alunos,
famílias, lideranças políticas, comunicação social, etc. pelo que, como sempre
digo, muitos dos problemas dos professores são também problemas nossos.
Uma segunda referência a um
estudo recente realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada
(ISPA-IU) segundo o qual cerca de 30% dos perto de 1000 professores inquiridos
revela risco de burnout.
Os professores mais velhos, do
ensino secundário ou os que lidam com alunos com necessidades educativas
especiais apresentam níveis mais elevados de burnout e sentem mais a falta de
reconhecimento profissional.
Como causas mais contributivas
para este cenário de stresse profissional são identificadas turmas com elevado
número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a
pressão para os resultados, insatisfação com as condições de desempenho, carga
horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte
das lideranças da escola.
Este cenário só pode surpreender
quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos
opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre educação e sobre
os professores. Já aqui tenho referido que os ataques, intencionais ou não, à
imagem dos professores, incluindo parte do discurso de responsáveis da tutela
ou de representantes dos professores que evidentemente, têm responsabilidades
acrescidas e também o discurso desses opinadores profissionais, mais ou menos
ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para
alterações significativas da imagem social dos professores, fragilizando-a
seriamente aos olhos de muitos alunos e pais.
Aliás, uma rápida passagem de
olhos pela caixa de comentários às várias referências na imprensa online a esta
matéria para se perceber e entender melhor a razão dos resultados.
Este quadro é profundamente
inquietante, uma população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais
de desgaste.
Importa inda considerar o impacto
da deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas
relações que a comunidade estabelece com estes profissionais
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade e também
sabemos que os recursos são finitos
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada, que se sente desvalorizada, pouco apoiada e que muitas vezes pergunta
"Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
Felizmente, o sentido ético e a
competência da grande maioria dos docentes fazem com que cumpram o seu trabalho
diário com resultados genericamente reconhecidos nos estudos comparativos
internacionais, veja-se o recentemente divulgado TIMSS, e vêem o seu trabalho
reconhecido pelos alunos como também os dados mostram.
No entanto, é bom não esquecer
que os sistemas educativos com melhores resultados são, justamente, os sistemas
em que os professores são mais valorizados, apoiados e reconhecidos.
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