Um grupo de personalidades, na
maioria com ligações ao universo da educação, lançou hoje um Manifesto pela
Democracia nas Escolas em que, fundamentalmente, se critica os efeitos do
modelo de direcção unipessoal de escolas e agrupamentos e, ao mesmo tempo, se
recupera as vantagens da chamada “gestão democrática” assente no anterior modelo
“conselho directivo".
Afirma-se no texto, “Apesar dos princípios consagrados na Lei de
Bases dos Sistema Educativo, assistimos a uma crescente desvalorização da
cultura democrática nas escolas e à anulação da participação colectiva dos
professores, dos alunos e da comunidade educativa. Verifica-se, pelo contrário,
uma tendência para a sobrevalorização da figura do(a) director(a) de escola ou
de agrupamento de escolas, sendo, ao mesmo tempo, subalternizado o papel de todos
os outros órgãos pedagógicos, e desencorajada a participação de outros
elementos da comunidade escolar. Esta situação é igualmente reveladora da
erosão da identidade de cada escola quando esmagada pelo peso da estrutura de
direcção unipessoal de governo dos agrupamentos”.”
Algumas notas.
Parece-me claro que a transformação
da direcção de escolas e agrupamentos num modelo unipessoal e a sua forma de eleição
através dos conselhos gerais, acompanhada por uma política de mega-agrupamentos
diminuindo substancialmente o número de unidades orgânicas, gosto desta
designação, se inscreve na sempre presente tentação de controlo político do
sistema. Todos nós conhecemos casos, alguns chegam à imprensa de processos de
eleição de direcções escolares que mais não são do que formas de colocar
pessoas com o alinhamento certo na função. Aliás, o próprio funcionamento dos
conselhos gerais é, em muitos casos, um exemplo disto mesmo.
Por outro lado, importa dizer,
que dado um pecado estrutural do nosso sistema educativo, a ausência de
dispositivos de regulação ao longo de décadas, coexistem boas práticas em
situações de direcção unipessoal como também sabemos que em muitas
circunstâncias a “gestão democrática", de democrática não tinha assim tanto e também se verificavam casos gritantes de menor competência.
Dito isto, parece-me que tanto
quanto o modelo de direcção, unipessoal ou colegial, julgo de reflectir na forma de eleição, participam todos os docentes ou
um pequeno grupo que “representa” o corpo docente no conselho geral, o mesmo se
passando com os funcionários.
Por outro lado, também me parece
que deve existir um claro reforço do papel dos Conselhos Pedagógicos no
funcionamento de escolas e agrupamentos.
Importa também que a reflexão
sobre a direcção de escolas e agrupamentos seja acompanhada de uma verdadeira
reflexão sobre o quadro de autonomia nas suas várias dimensões e equilíbrios.
Qual o efeito da anunciada municipalização ou “proximidade”, como também lhe
chamam, na autonomia de escolas e agrupamentos.
É claro que quanto mais sólido
for o modelo de autonomia das escolas mais importante se torna o papel e função
da direcção, independentemente do modelo.
Muitos estudos mostram que nas
organizações, incluindo escolas, a qualidade das lideranças tem um impacto
forte no desempenho das instituições e também de todos os que nela funcionam.
Boas lideranças escolares traduzem-se em melhores e mais estáveis climas de
trabalho, maior nível de colaboração entre os profissionais, menor absentismo,
melhores resultados ou menos incidentes de natureza disciplinar, melhor relação com pais e comunidade, entre outros
aspectos.
Camões já afirmava, “Que um fraco
Rei faz fraca a forte gente” o que numa actualização republicana poderá
entender-se como a defesa de lideranças competentes, com um gestão participada,
com mecanismos de eleição alargados, transparentes, escrutinados e com,
insisto, mecanismos de regulação que previnam excessos e abusos.
Alguns episódios na contratação de
docentes, de funcionários ou nos processos que envolvem técnicos e docentes
envolvidos nas AECs são situações a ter em conta pela forma negativa como foram
geridos por algumas direcções de escolas e agrupamento.
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