Por estes dias, tempo em que as
notas escolares são conhecidas por alunos e pais sempre me lembro deste texto que gostava que um dia ficasse fora de uso, sim eu sei que é uma utopia mas não é grave, é só mais
uma.
Acabou o primeiro período,
reúnem-se os professores e atribuem-se as notas. A maioria dos miúdos,
felizmente, sairá bem tratada do processo, os professores são gente que gosta,
ensina, educa e cuida dos miúdos. Com notas mais ou menos elevadas ficarão contentes
e o espírito natalício encarregar-se-á de os compensar também da forma
possível, pois, como se sabe, o espírito natalício não é igual para todas as
famílias, algumas terão até muito pouco espírito natalício.
Outros alunos, apesar de terem
alguns resultados menos positivos, com o apoio dos professores e da família e,
naturalmente, com o seu esforço, encararão o resto do ano com uma atitude
positiva e de confiança assumindo a convicção de como se diz “vão lá”, “são
capazes”. Assim deve ser.
Haverá ainda um grupo de alunos
de quem a escola, mesmo estando no primeiro período, desistirá, às vezes sem se
dar conta. São os miúdos que “não vão lá”, seja porque “com a família que tem
não é possível”, “porque, coitado, não é muito dotado, já o irmão quando cá
andou assim era”, “não se interessa por coisa alguma, não anda aqui a fazer
nada” ou outra qualquer apreciação entendida como razão justificativa para a
dificuldade. E teremos, finalmente, um grupo de alunos que desistem eles da
escola, confirmando a antecipação do insucesso, desde já estabelecida.
Num tempo em que a grande
orientação é reaproveitar e reciclar o que não serve ou não presta, talvez não
fosse má ideia que os municípios, com a orientação do Ministério da Educação,
procedessem à instalação de um novo recipiente nos ecopontos que quase sempre
existem perto das escolas. Assim, junto do vidrão, do pilhão e dos outros
contentores, colocar-se-ia um alunão, um recipiente onde se colocariam os
alunos que não servem ou não prestam e esperar que algo ou alguém os recicle e
devolva à escola novinhos, reciclados, cheios de capacidades, competências e
capazes de percorrer sem sobressaltos o caminho do sucesso.
O problema é que somos uma
sociedade de desperdícios, até de pessoas, e começamos logo nas pequenas.
Sem comentários:
Enviar um comentário