sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

OS ADOLESCENTES E JOVENS E OS CONSUMOS

A lei que proibiu a venda e consumo de qualquer tipo de álcool a menores de 18 anos entrou em vigor há quase um ano e meio. Neste espaço de tempo foram identificados apenas 198 jovens por consumo de álcool em espaços públicos e instaurados 226 processos por venda.
Por outro lado, os responsáveis por serviços de urgência pediátrica estão preocupados com o número e gravidade de episódios de recurso à urgência por excesso de consumo de álcool.
Existem queixas sobre a falta de recursos de inspecção mas creio que o problema é mais complexo do que isso. Aliás, quem lida com adolescentes e jovens e visita os circuitos nocturnos por onde passam percebe com clareza que a questão não se centra no número de inspectores.
O consumo de diferentes substâncias, aqui consideremos o álcool, em quantidade e em grupo por adolescentes e jovens, sobretudo ao fim-de-semana, é muitas vezes entendido e sentido como o factor de pertença ao grupo, potenciando a escalada desse consumo, juntos bebemos ou fumamos mais do que sós, como é óbvio e o "estado" que se atinge é sentido como um "facilitador" relacional.
Por outro lado, a acessibilidade aos diferentes produtos não é complicada, antes pelo contrário, processa-se com a maior das facilidades. Muitos adolescentes, ouvidos em estudos nesta matéria, referem ainda a ausência de regulação dos pais sobre os gastos, sobre os consumos ou sobre as horas de entrada em casa, que muitas vezes tem que ser discreta e directa ao quarto devido ao “mau estado” do protagonista.
Como é evidente, já muitas vezes aqui o tenho referido com base na minha experiência de contacto com pais de adolescentes, não estamos a falar de pais negligentes. Podem acontecer situações de negligência mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber desejando que o tempo “cure” porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e como lidar com a questão.
De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como maior que eles.
É preciso que a comunidade esteja atenta a estes adolescentes que, por vezes ainda antesos dos 13 ou 14 anos “acedem” às “litrosas”, aos shots, a qualquer outro produto para fumar ou consumir e também aos seus pais que estão tão perdidos quanto eles.
Para além da legislação de natureza proibicionista, parecem-me imprescindíveis, evidentemente, a adequada fiscalização e, sobretudo a criação de programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo das diferentes substâncias.
A proibição, como sempre, não basta e se prevenir e cuidar é caro que se façam as contas aos resultados do descuidar.

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