terça-feira, 6 de dezembro de 2016

PROFESSORES E ALUNOS VÃO FAZENDO A SUA PARTE

Ontem no DN encontrava-se uma entrevista com o Professor David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação direccionada para a questão sempre urgente do sucesso educativo.
Nessa entrevista, David Justino, para além de referir um conjunto de variáveis contributivas para o cenário que temos reafirma a reafirma a associação entre os níveis de escolaridade dos pais e o sucesso escolar dos filhos.
Regista os progressos realizados e expressos nos resultados dos estudos comparativos internacionais, veja-se o caso do TIMSS recentemente conhecido e pelos do PISA de 2015, hoje conhecidos e a que voltarei. Sublinha o contributo para este trajecto positivo do trabalho de alunos e professores e sintetiza, “as melhores escolas são aquelas que através do seu trabalho conseguem contrariar o aparente determinismo que a origem social dos alunos parece operar”.
A relação entre variáveis de natureza económica e social está estuda de há muito, recordo apenas o recente estudo realizado pela Direcção-Geral de Estatísticas de Educação, este sobre o 2º ciclo, “Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares – 2.º ciclo do ensino público geral” ou uma análise da OCDE, cruzando os resultados escolares dos alunos de diferentes países no Estudo comparativo PISA relativos a 2012 com as profissões dos pais, mostra que em Portugal, mais do que noutros países, os filhos de pais mais qualificados têm melhores resultados.
A situação sempre assim foi, ainda me lembro de quando era pequeno, haver quem se admirasse dos meus pais, um serralheiro e uma costureira, terem decidido que eu continuaria a estudar.
Apesar deste cenário, temos observado melhorias substantivas de resultados e apesar de patéticas tentativas de apadrinhamento político do que se conseguiu, do meu ponto de vista,  essas melhorias assentam sobretudo no trabalho de alunos e professores e diferentes escolas e professores têm feito, de facto, a diferença.
A questão é como a escola pode, ou não fazer a diferença. Há dias afirmei no Expresso, "A escola tem de fazer a diferença, contrariar o destino e permitir mobilidade social. Mas as que servem populações mais vulneráveis não podem responder com os mesmos recursos e da mesma forma que as restantes. Têm de ter autonomia e meios."
Do meu ponto de vista, tantas vezes aqui afirmado, a questão central será a qualidade na escola pública. Esta qualidade deverá assentar em três eixos fundamentais, a qualidade considerando resultados, processos, autonomia e gestão optimizada de recursos, segundo eixo, qualidade para todos, a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a desigualdade de entrada e, terceiro eixo, diferenciação de metodologias, diferenciação progressiva e não prematura dos percursos de educação e formação. Esta diferenciação de percursos deve passar, temos registado progressos nesta área, por uma oferta bastante mais variada ao nível do secundário possibilitando a muitas jovens completar este nível de ensino com competências profissionais, isto é que é fundamental. Também ao nível do ensino superior, com o trabalho no âmbito do ensino politécnico se criam condições para processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
Ora é neste quadro, a definição de políticas educativas, que me parece residir a maior fragilidade e ameaça ao sucesso educativo. É que os resultados também mostram que mais de 30% dos alunos portugueses já apresenta uma retenção e muitos mais do que uma. Temos uma das mais altas taxas de retenção, quase o triplo da média da OCDE, cerca de 13%.
Gosto muito de uma metáfora. Havendo um fogo na floresta o colibri atarefava-se transportando água no bico para lançar sobre as chamas. Um passarão grande cruzou-se com ele e perguntou, “Que estás a fazer colibri?”, “Estou a apagar o fogo, levo água no bico e despejo”, “Com um bico desse tamanho? É para rir”. “Estou a fazer a minha parte” respondeu o colibri.
Na verdade, se alunos e professores vão cumprindo a sua parte, quem há tantos anos não vem fazendo a sua? 
Urge a definição de uma política educativa para um prazo mais alargado do que ciclos eleitorais, estabelecida com base no interesse de todos, com definição clara de metas, recursos, processos e avaliação. A continuar na deriva a que nas última décadas nos entregamos, daqui a algum tempo um novo estudo de dentro ou de fora virá dizer exactamente o mesmo.

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