Ontem no DN encontrava-se uma
entrevista com o Professor David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação
direccionada para a questão sempre urgente do sucesso educativo.
Nessa entrevista, David Justino,
para além de referir um conjunto de variáveis contributivas para o cenário que
temos reafirma a reafirma a associação entre os níveis de escolaridade dos pais
e o sucesso escolar dos filhos.
Regista os progressos realizados e
expressos nos resultados dos estudos comparativos internacionais, veja-se o
caso do TIMSS recentemente conhecido e pelos do PISA de 2015, hoje conhecidos e a que voltarei. Sublinha o contributo para este trajecto positivo do
trabalho de alunos e professores e sintetiza, “as melhores escolas são aquelas que através do seu trabalho conseguem
contrariar o aparente determinismo que a origem social dos alunos parece operar”.
A relação entre variáveis de natureza
económica e social está estuda de há muito, recordo apenas o recente estudo
realizado pela Direcção-Geral de Estatísticas de Educação, este sobre o 2º
ciclo, “Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares – 2.º ciclo do
ensino público geral” ou uma análise da OCDE, cruzando os resultados escolares
dos alunos de diferentes países no Estudo comparativo PISA relativos a 2012 com
as profissões dos pais, mostra que em Portugal, mais do que noutros países, os
filhos de pais mais qualificados têm melhores resultados.
A situação sempre assim foi,
ainda me lembro de quando era pequeno, haver quem se admirasse dos meus pais, um
serralheiro e uma costureira, terem decidido que eu continuaria a estudar.
Apesar deste cenário, temos observado melhorias substantivas de resultados e apesar de patéticas tentativas de apadrinhamento político do que se conseguiu, do meu ponto de vista, essas melhorias assentam sobretudo no trabalho de alunos e professores e diferentes escolas e professores têm feito, de facto, a diferença.
A questão é como a escola pode,
ou não fazer a diferença. Há dias afirmei no Expresso, "A escola tem de
fazer a diferença, contrariar o destino e permitir mobilidade social. Mas as
que servem populações mais vulneráveis não podem responder com os mesmos
recursos e da mesma forma que as restantes. Têm de ter autonomia e meios."
Do meu ponto de vista, tantas
vezes aqui afirmado, a questão central será a qualidade na escola pública. Esta
qualidade deverá assentar em três eixos fundamentais, a qualidade considerando
resultados, processos, autonomia e gestão optimizada de recursos, segundo eixo,
qualidade para todos, a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a
desigualdade de entrada e, terceiro eixo, diferenciação de metodologias,
diferenciação progressiva e não prematura dos percursos de educação e formação.
Esta diferenciação de percursos deve passar, temos registado progressos nesta
área, por uma oferta bastante mais variada ao nível do secundário
possibilitando a muitas jovens completar este nível de ensino com competências
profissionais, isto é que é fundamental. Também ao nível do ensino superior,
com o trabalho no âmbito do ensino politécnico se criam condições para
processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
Ora é neste quadro, a definição
de políticas educativas, que me parece residir a maior fragilidade e ameaça ao
sucesso educativo. É que os resultados também
mostram que mais de 30% dos alunos portugueses já apresenta uma retenção e
muitos mais do que uma. Temos uma das mais altas taxas de retenção, quase o
triplo da média da OCDE, cerca de 13%.
Gosto muito de uma metáfora.
Havendo um fogo na floresta o colibri atarefava-se transportando água no bico
para lançar sobre as chamas. Um passarão grande cruzou-se com ele e perguntou, “Que
estás a fazer colibri?”, “Estou a apagar o fogo, levo água no bico e despejo”, “Com
um bico desse tamanho? É para rir”. “Estou a fazer a minha parte” respondeu o
colibri.
Na verdade, se alunos e
professores vão cumprindo a sua parte, quem há tantos anos não vem fazendo a sua?
Urge a definição de uma política
educativa para um prazo mais alargado do que ciclos eleitorais, estabelecida
com base no interesse de todos, com definição clara de metas, recursos,
processos e avaliação. A continuar na deriva a que nas última décadas nos
entregamos, daqui a algum tempo um novo estudo de dentro ou de fora virá dizer
exactamente o mesmo.
Sem comentários:
Enviar um comentário