Os dias que medeiam entre o Natal
e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto de características muito
particulares. Fico sempre com a sensação de que os vivemos como não dias. Pode
parecer uma ideia estranha mas vou tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a
recuperar do espírito natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da
azáfama das prendas, dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos.
Acresce para muita gente o problema das trocas, ou porque já tinham o que
receberam ou porque não serve o que receberam,
Para que se não saia dos espaços
comerciais o ânimo recupera-se entrando de imediato na época de saldos,
descontos, promoções ou outra qualquer designação apelativa a mais umas
compras. Trata-se do efeito terapêutico do mercado e do consumo.
Deste estado, passamos para os
dias de aproximação ao Ano Novo que, independentemente do que de menos bom
possamos racionalmente esperar, vivemos com a esperança de que seja mesmo novo
e, sobretudo, Bom.
Iremos certamente trocar inúmeras mensagens e
votos noutra azáfama que aparenta assentar numa ideia mágica dos tempos de
miúdo que nos parece fazer acreditar em que se assim procedermos, o Ano Novo vai
ser mesmo Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nele, ele vai convencer-se de
que terá mesmo que ser assim.
É certo que de há uns tempos para
cá, como devem ter dado por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja
Bom, ou até mesmo que não seja pior do que este. Já era bem bom, por assim
dizer.
É também muito provável que nos
últimos dias do próximo Dezembro, o de 2017, estaremos com o mesmo sentimento a
enunciar os mesmos discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa
está a mudar..
Alguns de nós tentarão de forma
mais ou menos dispendiosa ou criativa encontrar uma maneira feliz e divertida,
assim a entendemos, de entrar no Ano Novo. Pode até nem ser muito divertida mas
vai parecer com toda a certeza. Este ano, talvez possa até já ser um pouco
menos comedida nos custos, dizem que a coisa está um bocadinho melhor.
No entanto, como se sabe a crise
quando nasce não é para todos e haverá réveillons para todas as bolsas. Acresce
que muitas autarquias no seu espírito de missão e de serviço ao cidadão
proporcionarão fantásticos espectáculos de fogo-de-artifício e música para que
toda agente possa receber o Ano Novo sem grande custo.
O problema mais sério é que a 2
de Janeiro está aí o Ano Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para
muita outra gente não vai ser Bom, longe disso.
Mas para um povo sereno e de
brandos costumes como nós, haja saúde que é o principal, no resto, no resto,
algum jeito se há-de dar.
Bom Ano.
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