No Público encontra-se uma peça
sobre os riscos de excessiva utilização dos videojogos.
A este propósito recordo um
estudo da Universidade de Oxford afirmando que o uso moderado dos videojogos,
até uma hora por dia, pode ter efeitos positivos nas crianças. A utilização
mais demorada, acima das três horas, repercute-se negativamente em aspectos
psicossociais.
É sempre interessante aprofundar
o conhecimento sobre estas matérias mas o estudo não traz nada de novo e
desconheço se foi considerada uma variável importante, o tipo de videojogos.
Volto a umas notas sobre esta
matéria tão dentro da vida dos miúdos e adolescentes.
Na verdade, a utilização dos
videojogos não é uma matéria de simples abordagem, existem opiniões de sentido
bem diferente.
Uns opinam que os estudos sugerem
riscos no uso excessivo destes materiais, recordo uma conferência há algum
tempo realizada no ISCTE por Bruce D. Bartholow. Por outro lado, alguns
socorrem-se de estudos que não encontram nenhuma relação de causa efeito entre
o consumo de videojogos violentos e o desencadear de comportamentos de extrema
violência, sendo ainda que existe quem defenda, em abstracto, o potencial
educativo dos videojogos.
Sobre este último ponto recordo
um Relatório de 2009 do Parlamento Europeu coordenado por Toine Manders em que
se afirmava, curiosamente, que os resultados “contradizem muitos estudos que
sublinham a dependência e a violência que os videojogos podem provocar nos mais
pequenos, deixando alguns pais mais tranquilos” e, citando o próprio relatório,
os videojogos estimulam “a aprendizagem de factos e habilidades como a reflexão
estratégica, a criatividade, a cooperação e o sentido de inovação”. O relatório
também referia, no entanto, que alguns videojogos podem não ser apropriados. O
acesso extraordinariamente facilitado a videojogos com conteúdos obviamente
desajustados algumas idades constitui justamente a base das opiniões mais
cautelosas.
Julgo que se trata de uma matéria
em que, por estranho que pareça, todos podem ter razão, ou seja, em muitas
crianças, adolescentes ou adultos, comportamentos de enorme violência aparecem
associados ao consumo de videojogos violentos mas nem todos os miúdos
adolescentes ou jovens que os consomem desenvolvem comportamentos de violência,
daí a inexistência de uma relação de causa-efeito.
A questão central, do meu ponto de vista,
não é sobre se os videojogos fazem mal ou se fazem bem, é sobre o tempo que
ocupam na vida dos miúdos e a qualidade e os conteúdos disponíveis considerando
a idade das crianças. Muitos de nós, especialistas ou não, inquietamo-nos com o
tempo excessivo que muitas crianças e adolescentes passam sós, ou com outros
"sós" do outro lado, agarradas a um ecrã, numa espécie de teledependência e já configurando um comportamento aditivo com consequências importantes no bem-estar dos mais novos. Aliás, este é um aspecto central na peça do Público.
Esta preocupação não tem nada a
ver com um entendimento definitivo de que os videojogos são perigosos. Existem
excelentes videojogos que, naturalmente, serão úteis e positivos na vida dos
miúdos.
Uma outra questão, é o espaço que
estes produtos ocupam na vida dos miúdos. Segundo alguns estudos, perto de 50%
das crianças até aos 15 anos terão computador ou televisor no quarto sendo que com os smartphones estes dados são menos indicativos e também se conhece o tempo imenso que muitas crianças e adolescentes
dedicam aos ecrãs. Acontece que durante o período de sono e sem regulação
familiar muitas crianças e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou
telemóvel. Com é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar
consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção,
ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro
geral de pior qualidade de vida.
Comer faz bem às crianças, mas
comer excessivamente e produtos de má qualidade, provoca sérios problemas de
saúde. Que se eduque o consumo, sem se diabolizar ou exaltar o
produto.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais novos, são problemas novos para muitos pais, alguns deles com níveis baixos de alfabetização informática. Considerando as
implicações sérias na vida diária e que só estratégias proibicionistas não são
muito eficazes, importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos
pais para que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da
qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário