quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A ESCOLA ESTÁ ATENTA A TUDO

A discussão sobre as funções da escola está permanentemente em aberto e o entendimento sobre estas funções é de uma enorme latitude.
Se considerarmos o universo de necessidades dos mais novos face à comunidade dos adultos, incluindo família e instituições, poderemos de forma simples identificar três grandes dimensões o ensinar, o educar e o cuidar cuja interdependência se vai ajustando ao longo do crescimento e desenvolvimento.
À escola parece que sempre esteve e está cometida a resposta ao nível do ensina, sendo que à família e outras instituições estariam fundamentalmente atribuídas as funções de educar e cuidar.
No entanto, as mudanças rápidas e significativas nos estilos de vida e exigências, no quadro de valores sociais, culturais, políticos, económicos, etc. obrigaram a ajustamentos para os quais talvez ainda não tenhamos encontrado o ponto de equilíbrio.
As crianças chegam mais cedo às instituições educativas, ainda bebés, passam cada vez mais tempo nessas instituições, até inventaram a “Escola a Tempo Inteiro” e têm percursos cada vez mais longos.
Este quadro leva a que de uma forma geral todos os problemas que afectam as crianças e adolescentes emergem na escola pois é na escola que eles estão boa parte do seu tempo.
A questão é que a escola não consegue, não tem meios e recursos, para acomodar e responder a todas as necessidades de crianças e adolescentes para além de responder com qualidade ao que a si é exigido e, por tal, responsabilizada.
Vem esta introdução a propósito da notícia de que professores, funcionários e outros técnicos a exercer funções nas escolas sinalizaram mais dois mil casos de maus tratos e suspeitas de maus tratos a crianças e jovens no ano lectivo de 14/15 o que corresponderá a cerca de um quarto do total de situações identificadas a nível nacional.
Esta atenção da gente da escola ao bem-estar dos miúdos é fundamental para que se identifiquem situações de risco, por vezes, com consequências severas.
O problema é o que vem depois e que ainda nos suscita muita preocupação e que aqui refiro com frequência.
Por questões relativas a insuficiência de recursos e técnicos, por dificuldade de articulação entre instituições, por burocracia e morosidade, ouve-se com demasiada frequência uma das expressões que me deixam mais incomodado, a(s) criança(s) estava(m) “sinalizada(s)” ou “referenciada(s)” mas … a intervenção aconteceu ou aconteceu tarde.
Em Portugal sinalizamos e referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou resolver os problemas referenciados ou sinalizados.
Por isso, sendo importante registar a menor tolerância da comunidade aos maus-tratos aos miúdos, também será importância que desenvolva a sua intolerância face à ausência de respostas.
A escola vai cumprindo, também aqui, a sua parte.

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