A discussão sobre as funções da
escola está permanentemente em aberto e o entendimento sobre estas funções é de uma enorme
latitude.
Se considerarmos o universo de necessidades
dos mais novos face à comunidade dos adultos, incluindo família e instituições,
poderemos de forma simples identificar três grandes dimensões o ensinar, o
educar e o cuidar cuja interdependência se vai ajustando ao longo do
crescimento e desenvolvimento.
À escola parece que sempre esteve
e está cometida a resposta ao nível do ensina, sendo que à família e outras
instituições estariam fundamentalmente atribuídas as funções de educar e
cuidar.
No entanto, as mudanças rápidas e
significativas nos estilos de vida e exigências, no quadro de valores sociais,
culturais, políticos, económicos, etc. obrigaram a ajustamentos para os quais
talvez ainda não tenhamos encontrado o ponto de equilíbrio.
As crianças chegam mais cedo às
instituições educativas, ainda bebés, passam cada vez mais tempo nessas
instituições, até inventaram a “Escola a Tempo Inteiro” e têm percursos cada
vez mais longos.
Este quadro leva a que de uma
forma geral todos os problemas que afectam as crianças e adolescentes emergem
na escola pois é na escola que eles estão boa parte do seu tempo.
A questão é que a escola não consegue,
não tem meios e recursos, para acomodar e responder a todas as necessidades de crianças
e adolescentes para além de responder com qualidade ao que a si é exigido e,
por tal, responsabilizada.
Vem esta introdução a propósito
da notícia de que professores, funcionários e outros técnicos a exercer funções
nas escolas sinalizaram mais dois mil casos de maus tratos e suspeitas de maus
tratos a crianças e jovens no ano lectivo de 14/15 o que corresponderá a cerca
de um quarto do total de situações identificadas a nível nacional.
Esta atenção da gente da escola
ao bem-estar dos miúdos é fundamental para que se identifiquem situações de
risco, por vezes, com consequências severas.
O problema é o que vem depois e
que ainda nos suscita muita preocupação e que aqui refiro com frequência.
Por questões relativas a
insuficiência de recursos e técnicos, por dificuldade de articulação entre
instituições, por burocracia e morosidade, ouve-se com demasiada frequência uma
das expressões que me deixam mais incomodado, a(s) criança(s) estava(m)
“sinalizada(s)” ou “referenciada(s)” mas … a intervenção aconteceu ou aconteceu
tarde.
Em Portugal sinalizamos e
referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou
resolver os problemas referenciados ou sinalizados.
Por isso, sendo importante
registar a menor tolerância da comunidade aos maus-tratos aos miúdos, também
será importância que desenvolva a sua intolerância face à ausência de respostas.
A escola vai cumprindo, também
aqui, a sua parte.
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