sábado, 10 de dezembro de 2016

NÍVEIS DE QUALIFICAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

As referências à produtividade e competitividade no mercado de trabalho são constantes e entendidas como imprescindíveis ao nosso desenvolvimento.
Neste sentido e nos anos mais recentes, a busca de produtividade e competitividade tem assentado erradamente em abaixamento de salários, aumento da carga horária e flexibilização das relações laborais, isto é, na precariedade.
Os resultados não têm sido brilhantes como se sabe o que, de facto, não é surpreendente. Mais trabalho não significa melhor trabalho como muitos estudos e a análise de outras realidades, mesmo as de quem nos critica e impõe aquelas medidas, mostram.
Na verdade, existem factores menos considerados nas decisões políticas que desempenham um papel fundamental na produtividade e na competitividade. Os modelos de organização e funcionamento das empresas e instituições organização, ou seja, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais são um relevante factor. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado.
Relembro que os empregadores portugueses, sobretudo nas médias, pequenas e micro empresas, as que asseguram a grande fatia dos postos de trabalho, possuem um baixíssimo nível de qualificação em termos europeus, excepção feita, evidentemente, a alguns nichos.
Um trabalho realizado pelo economista Eugénio Rosa com base nos dados do Eurostat é elucidativo.
Segundo dados de 2015, os empregadores portugueses têm um nível médio de escolaridade inferior ao dos trabalhadores, 113 mil patrões empregadores, 55,8% do total tinham apenas o ensino básico enquanto 1,6 milhões de trabalhadores, 45,5% do total tinham a mesma habilitação. Acresce que 45 mil empregadores, 22,4%, tinham o ensino secundário enquanto um milhão de trabalhadores, 27,3%, têm esse nível de escolarização. Se considerarmos o ensino superior, apenas 44 mil empregadores tinham formação superior, 21,7%, face a 997 mil de trabalhadores, 27,2%.
Numa perspectiva comparativa com a média dos 28 países da EU temos, com ensino básico, 55,8% em Portugal e 17,5% na EU, ensino secundário, 22,4% em Portugal e 43,9% na EU e no ensino superior: 21,7% em Portugal e 38,3% na UE.
Os dados são particularmente significativos e não podem deixar de ter um enorme impacto e sublinham que as mais fáceis decisões de aumentar o horário de trabalho, baixar salários ou flexibilizar relações laborais não serão, as soluções milagrosas de incremento da produtividade e da competitividade.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado e consistente de apoio à modernização e formação e inovação dos empregadores e quadros do tecido empresarial do que baixar custos do trabalho pelo recurso simplista e “fácil” ao aumento da carga horária ou à efectiva redução de salários como se o empobrecimento e mais carga horária, só por si, promovessem desenvolvimento.

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