As referências à produtividade e
competitividade no mercado de trabalho são constantes e entendidas como
imprescindíveis ao nosso desenvolvimento.
Neste sentido e nos anos mais
recentes, a busca de produtividade e competitividade tem assentado erradamente em
abaixamento de salários, aumento da carga horária e flexibilização das relações
laborais, isto é, na precariedade.
Os resultados não têm sido
brilhantes como se sabe o que, de facto, não é surpreendente. Mais trabalho não
significa melhor trabalho como muitos estudos e a análise de outras realidades,
mesmo as de quem nos critica e impõe aquelas medidas, mostram.
Na verdade, existem factores
menos considerados nas decisões políticas que desempenham um papel fundamental na
produtividade e na competitividade. Os modelos de organização e funcionamento
das empresas e instituições organização, ou seja, a qualidade das lideranças
nos contextos profissionais são um relevante factor. O nível de desperdício no
esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é
extraordinariamente elevado.
Relembro que os empregadores
portugueses, sobretudo nas médias, pequenas e micro empresas, as que asseguram
a grande fatia dos postos de trabalho, possuem um baixíssimo nível de
qualificação em termos europeus, excepção feita, evidentemente, a alguns
nichos.
Um trabalho realizado pelo economista
Eugénio Rosa com base nos dados do Eurostat é elucidativo.
Segundo dados de 2015, os
empregadores portugueses têm um nível médio de escolaridade inferior ao dos
trabalhadores, 113 mil patrões empregadores, 55,8% do total tinham apenas o
ensino básico enquanto 1,6 milhões de trabalhadores, 45,5% do total tinham a
mesma habilitação. Acresce que 45 mil empregadores, 22,4%, tinham o ensino
secundário enquanto um milhão de trabalhadores, 27,3%, têm esse nível de
escolarização. Se considerarmos o ensino superior, apenas 44 mil empregadores
tinham formação superior, 21,7%, face a 997 mil de trabalhadores, 27,2%.
Numa perspectiva comparativa com
a média dos 28 países da EU temos, com ensino básico, 55,8% em Portugal e 17,5%
na EU, ensino secundário, 22,4% em Portugal e 43,9% na EU e no ensino superior:
21,7% em Portugal e 38,3% na UE.
Os dados são particularmente
significativos e não podem deixar de ter um enorme impacto e sublinham que as
mais fáceis decisões de aumentar o horário de trabalho, baixar salários ou flexibilizar
relações laborais não serão, as soluções milagrosas de incremento da
produtividade e da competitividade.
Parece-me bem mais potente um
esforço concertado e consistente de apoio à modernização e formação e inovação dos
empregadores e quadros do tecido empresarial do que baixar custos do trabalho
pelo recurso simplista e “fácil” ao aumento da carga horária ou à efectiva
redução de salários como se o empobrecimento e mais carga horária, só por si,
promovessem desenvolvimento.
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