Ela tem síndrome de Down e é professora primária
É verdade.
Sem ser por magia ou mistério
quando acreditamos que os alunos, as pessoas com algum tipo de necessidade
especial, são capazes, não se "normalizam" evidentemente seja lá isso
o que for, mas são, na verdade, mais capazes, vão mais longe do que admitimos
ou esperamos. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do
meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem,
que eles são capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o progresso
possível.
E isto envolve professores do
ensino regular, de educação especial, técnicos, pais, lideranças políticas e
toda a restante comunidade.
Em algumas circunstâncias, apesar
de excelentes práticas que aqui registo e saúdo, o trabalho desenvolvido com
alunos necessidades especiais é, do meu ponto de vista, parte do problema e não
parte da solução, situação potenciada entre nós com a Portaria em vigor
relativa ao trabalho nas escolas secundárias para os alunos com “CEI” a cumprir
escolaridade obrigatória.
É um trabalho por vezes inconsequente,
assente em avaliações pouco consistentes, descontextualizado, mobilizando pouca
participação e envolvimento nos contextos em que os alunos se inserem. Dito de
outra maneira, em algumas circunstâncias o trabalho desenvolvido com e por estes
alunos é ele próprio um factor de debilização, ou seja, alimenta a sua
incapacidade, numa reformulação do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da
incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados
e competentes, mas da sua (nossa) própria representação sobre este grupo de
alunos, isto é, não acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta
representação resultam situações e contextos de aprendizagem, tarefas e
materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na definição de
objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não conseguem potenciar mudanças
significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não são, de facto,
capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
Mais uma vez. a inclusão assenta
em quatro dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na
comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas),
Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns) e
Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade). Estas
dimensões devem ser operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação
justamente para que acomodem a diversidade das pessoas.
É neste sentido que devem ser
canalizados os esforços e os recursos que deverão, obrigatoriamente, existir. Não,
não é nenhuma utopia. Muitas experiências noutras paragens mas também por cá
mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
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