segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O ARRANJA MOINHOS

É impossível que não aconteça, a cada 5 de Dezembro lembro-me do meu Pai. Partiu há quarenta e um anos num dia de Sol como o de hoje.
Uma das muitas razões pelas quais o meu pai foi meu pai, para além de ser um Homem Bom, foi pelo facto de contar imensas histórias, quase sempre criadas no momento.
Não tínhamos televisão, líamos algumas obras que ele trazia da biblioteca dos operários do Arsenal do Alfeite onde era serralheiro, ouvíamos alguma rádio, mas lembro-me sobretudo das histórias, todos os dias inventadas.
A memória destas histórias também se acendeu porque, em quase todas, entrava um personagem que dava pelo nome de Arranja Moinhos, não me perguntem porquê mas era esse o nome que o meu pai lhe dava e o meu pai fazia sempre as coisas bem-feitas.
Era um super-homem o “Arranja Moinhos”, sempre que a história entrava numa fase mais complicada, fosse qual fosse a situação ou as dificuldades que os personagens enfrentassem, lá aparecia o Arranja Moinhos que tudo resolvia, tudo tratava e a história, claro, acabava bem, para descanso dos fascinados ouvidores eu, o meu primo e, às vezes, mais um ou outro miúdo da vizinhança. Era certo, de vez quando lá tínhamos outra aventura do Arranja Moinhos, complicada e cheia de problemas, mas em que ele genial e cheio de saberes dava sempre a volta e se saía a contento.
Pensei como nos tempos que correm, em que tudo parece estar mal e sem conserto, daria jeito aparecer o Arranja Moinhos. Tenho a certeza que ele havia de encontrar uma maneira de nos ajudar a sair dela. O meu pai dizia que ele era capaz de resolver tudo.
E eu, eu continuo a acreditar no meu pai. É verdade, partiu cedo, demasiado cedo, mas ainda a tempo de me mostrar o que nunca viu e lugares onde nunca esteve.
Não conheceu os netos e, naturalmente, os bisnetos. Haveria de ficar contente, eles também.
Entretanto, vou eu contando histórias aos meus netos, algumas com o Arranja Moinhos, mas gostava que tivessem ouvido as dele e que ele lhas pudesse contar.

2 comentários:

não sei quem sou... disse...

Para mim o seu post é um poema de AMOR e SAUDADE.

Para si, Professor José Morgado um VIVA!


Bem-haja

Zé Morgado disse...

Obrigado companheiro