O Público faz referência a um
estudo sobre a forma como os mais velhos percebem o que foi e é a sua vida, “Envelhecimento
em Lisboa, Portugal e Europa: uma perspectiva comparada”, recentemente
publicado pelo Instituto do Envelhecimento do Instituto de Ciências Sociais.
Os dados sugerem que apenas um
quarto dos velhos olha para o seu passado com “alegria”, só 29.9% afirma ter
tido uma vida feliz “muitas vezes” e os restantes “raramente” ou “nunca” se
sentiram felizes.
Os velhos portugueses estão
também entre os que mais dificuldades exprimem em termos de saúde, em
particular de saúde mental e no consumo de fármacos, recursos económicos e
actividade física e social. Evidenciam também de forma significativa baixas
expectativas face ao futuro.
Quando se comparam os indicadores
relativos à esperança de vida, em que realizámos um progresso notável, com a
manutenção de vida saudável nessa última fase, em que ocupamos os lugares mais
baixos a Europa, ou seja, vivemos mais mas mais doentes, sobretudo as mulheres,
importa não esquecer as condições de vida, um indicador com influência muito
significativa. A definição deste nível de vida não se liga apenas a recursos
económicos mas, sobretudo, a recursos educacionais, nível de informação,
acessibilidade a apoios, etc.
Este cenário sublinha duas
questões que parecem fundamentais e que nem sempre parecem suficientemente
valorizadas. Em primeiro lugar há que considerar a importância decisiva que em
todas as dimensões da vida das pessoas assumem a qualificação e a informação.
Melhores níveis de formação promovem melhor qualidade nos estilos de vida o que
estudo agora divulgado também acentua.
Na verdade as condições de vida
de boa parte dos nossos velhos são complicadas.
Começam por ser desconsiderados
pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os
velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos
dependentes de medicação e apoio, sem médico de família e com dificuldades
evidentes no acesso aos cuidados de saúde. Em muitas circunstâncias, as famílias,
seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades, não se constituem
como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da
solução.
Finalmente, as instituições,
muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização
além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos
rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Por outro lado, é também de
referir que as alterações dos estilos de vida e dos valores produzem cada vez
mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com consequências que
têm feito manchetes. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência
comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente,
um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que
lhes permitem aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e
merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
No entanto, lamentavelmente, boa parte dos
velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para qualquer narrativa.
Sem comentários:
Enviar um comentário