Ao que parece o acordo entre PS,
BE e PCP que garanta apoio parlamentar a um Governo do PS está bem encaminhado.
A coligação insiste na indigitação de
Passos Coelho para formar Governo com a esperança de que alguns deputados do PS
não apoiem o acordo subscrito por António Costa. Aliás, são conhecidas opiniões
de algumas figuras socialistas que contestam o acordo. A mudança assusta,
sobretudo quem vive do “sempre foi assim”, a alternância do "arco da governação", porquê mudar e logo para a esquerda, a tenebrosa esquerda.
Registo também que várias figuras
do PSD e CDS-PP têm vindo a insistir na possibilidade, a rebeldia de alguns deputados do PS contra o acordo à esquerda de alguns deputados do PS o
que viabilizaria a continuidade do Governo da coligação. A essa eventual rebeldia não serão estranhos os ajustes nas lutas pelo poder interno no PS, também por aqui nada de novo, coisas do aparelhismo e da partidocracia.
O que me parece verdadeiramente
espantosa e hipócrita é a argumentação. Assenta na ideia de que “as direcções
políticas partidárias não são donas dos votos dos deputados.
Pessoalmente, concordo em
absoluto com o enunciado mas ...
Existe um pormenor irrelevante, a
mesma gente que afirma isto com um ar sério obrigou, é público, a que os
deputados candidatos pela coligação às eleições de 4 de Outubro assumissem um
contrato de “fidelidade” às decisões da direcção política que sendo rompido leva à sua substituição na AR.
Dito de outra maneira e como é
habitual, os deputados deverão votar o que lhes for dito para votar. É claro que
nas outras bancadas deve imperar a liberdade de voto. A hipocrisia e o despudor
não têm limites.
Na verdade, assistir a algumas
sessões e ao nível dos debates produzidos é, com frequência, um espectáculo
deprimente. Os interesses dos cidadãos que os deputados representam são
trocados pelos interesses da partidocracia de que os deputados se alimentam.
O recurso frequente à famigerada
figura de "disciplina de voto" partidária é um ataque às consciências
e, mais uma vez, à essência do papel de um deputado, representar os seus
eleitores e não mostrar-se como um "yes man" que carrega no botão que
lhe mandam sem um sobressalto de consciência ou de sentido ético. Nessas
sessões torna-se claro que bastaria uma reunião da conferência de líderes para
conhecer os resultados das votações, um deputado por partido seria suficiente
para representar os resultados eleitorais. Aliás, a indecorosa narrativa das
sucessivas Comissões de Inquérito sobre as mais diversas matérias que,
invariavelmente, concluem pelos interesses de quem em cada momento governa, são
um outro bom exemplo do descrédito a que genericamente esta gente condena a
Assembleia da República e a classe política.
De tudo isto resulta, como muitas
vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas
de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro
político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do
exterior.
Veremos com irão decorrer as
coisas.
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