Um gentil convite da Sociedade
Portuguesa de Pediatria para intervir no seu 16º Congresso aqui no Algarve para
falar dos tempos, das circunstâncias, das idades em que os pais o são, das
dificuldades e também, evidentemente, do privilégio de exercer o “ofício” de
pai, mãe.
Lamentavelmente, cada vez menos
pessoas experimentam a magia da paternidade e os que experimentam também cada
vez o são menos frequentemente, o inverno demográfico parece ter vindo para ficar
e número de filhos vai sendo revisto em baixa.
É verdade que, felizmente, as
famílias encontram caminhos interiores e próprios para lidar com os desafios da
paternidade. Com dificuldades, com ansiedade, com dúvidas, claro, com decisões
que nem sempre são as melhores, claro, mas conseguindo o que todos desejamos,
ajudar os mais novos a ser gente, gente de bem.
Assim como não gosto de
supercrianças e tantas vezes se quer fazer dos miúdos supermiúdos, também creio
que não precisamos de superpais. Precisamos de pais atentos e disponíveis. A
disponibilidade não é só um problema de tempo, sendo certo que as circunstâncias
de vida de muitas famílias são pouco amigáveis também entendo que a atitude e a
vontade de ser disponível são determinantes.
No entanto, famílias existem e
transversalmente aos patamares sociais que sentem enormes dificuldades e
inquietações no dia-a-dia com os filhos.
A estas famílias, a estes pais e
a estas crianças e adolescentes, também nós que profissionalmente ou de outra qualquer
forma nos relacionamos com este universo, precisamos de estar mais atentos, de
ler, de perceber comportamentos, discursos ou omissões que sejam sinais de
mal-estar para crianças e pais.
Acontece ainda que os contextos
familiares são sempre específicos. Recordo a ideia de Tolstoi em “Anna Karenina”,
as famílias felizes parecem-se todas. As famílias infelizes, cada uma é-o à sua
maneira. Mais difícil, mas ainda mais importante se torna estarmos atentos.
Demasiadas vezes intervimos para
responder e nem sempre conseguimos responder bem, menos vezes intervimos para
prevenir. Não pudemos ou não soubemos perceber o que estava a acontecer ou para
acontecer.
Por coincidência, também aqui Algarve
a imprensa de hoje refere a situação, em Faro, de duas crianças de três anos, gémeas, que
de madrugada foram encontradas a brincar de pijama e descalças num parque a 500 metros da sua casa onde dormia a sua mãe. A situação desta família
já era acompanhada, como quase sempre, mas …
Estão a nascer menos crianças,
temos de saber cuidar melhor das que nascem e ajudar melhor os que as fazem
nascer.
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