sexta-feira, 23 de outubro de 2015

DOS PAIS E DOS FILHOS

Um gentil convite da Sociedade Portuguesa de Pediatria para intervir no seu 16º Congresso aqui no Algarve para falar dos tempos, das circunstâncias, das idades em que os pais o são, das dificuldades e também, evidentemente, do privilégio de exercer o “ofício” de pai, mãe.
Lamentavelmente, cada vez menos pessoas experimentam a magia da paternidade e os que experimentam também cada vez o são menos frequentemente, o inverno demográfico parece ter vindo para ficar e número de filhos vai sendo revisto em baixa.
É verdade que, felizmente, as famílias encontram caminhos interiores e próprios para lidar com os desafios da paternidade. Com dificuldades, com ansiedade, com dúvidas, claro, com decisões que nem sempre são as melhores, claro, mas conseguindo o que todos desejamos, ajudar os mais novos a ser gente, gente de bem.
Assim como não gosto de supercrianças e tantas vezes se quer fazer dos miúdos supermiúdos, também creio que não precisamos de superpais. Precisamos de pais atentos e disponíveis. A disponibilidade não é só um problema de tempo, sendo certo que as circunstâncias de vida de muitas famílias são pouco amigáveis também entendo que a atitude e a vontade de ser disponível são determinantes.
No entanto, famílias existem e transversalmente aos patamares sociais que sentem enormes dificuldades e inquietações no dia-a-dia com os filhos.
A estas famílias, a estes pais e a estas crianças e adolescentes, também nós que profissionalmente ou de outra qualquer forma nos relacionamos com este universo, precisamos de estar mais atentos, de ler, de perceber comportamentos, discursos ou omissões que sejam sinais de mal-estar para crianças e pais.
Acontece ainda que os contextos familiares são sempre específicos. Recordo a ideia de Tolstoi em “Anna Karenina”, as famílias felizes parecem-se todas. As famílias infelizes, cada uma é-o à sua maneira. Mais difícil, mas ainda mais importante se torna estarmos atentos.
Demasiadas vezes intervimos para responder e nem sempre conseguimos responder bem, menos vezes intervimos para prevenir. Não pudemos ou não soubemos perceber o que estava a acontecer ou para acontecer.
Por coincidência, também aqui Algarve a imprensa de hoje refere a situação, em Faro, de duas crianças de três anos, gémeas, que de madrugada foram encontradas a brincar de pijama e descalças num parque a 500 metros da sua casa onde dormia a sua mãe. A situação desta família já era acompanhada, como quase sempre, mas …
Estão a nascer menos crianças, temos de saber cuidar melhor das que nascem e ajudar melhor os que as fazem nascer.

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