No Público de hoje está uma entrevista com a Professora Ivone Patrão do ISPA – Instituto Universitário cuja leitura recomendo a quem de alguma forma se interessa pelo universo a educação. O tema central é o
acesso demasiado cedo e demasiado presente das crianças a dispositivos como tablets e smartphones. Este contacto é feito com um nível muito baixo de
controlo parental sendo que em muitos casos os pais recorrem a estes
dispositivos como uma “chucha”
destinada a “entreter” e “acalmar” as crianças. Sem estranheza este tipo comportamento
promove uma sobreutilização e quase dependência que se mantém na adolescência.
Já aqui tenho referido algumas
das questões suscitadas pelo que me alongo mais sobre esta o que foi dito sugerindo,
de novo, a leitura da entrevista com Ivone Patrão.
No entanto queria complementar
esta abordagem com outro tipo de dados que me parecem também merecer séria
reflexão no que toca à relação que adultos, crianças e adolescentes estabelecem
algo tão presente, demasiado presente, no nosso quotidiano, tablets e smartphones.
Em 2014 for divulgado um estudo norte-americano
que envolveu um número importante de crianças com idades diferentes sobre a sua
percepção das relações com os seus pais e das relações destes com dispositivos
como telemóveis ou tablets.
O estudo sugere que as crianças
expressam de forma muito clara um aumento da distância, da desatenção e de
dificuldades relacionais pois sentem os pais numa sobreutilização daqueles
dispositivos em detrimento do contacto consigo e da atenção que lhes dedicam.
O estudo é importante, ouve as
crianças, e vem ao encontro de outras investigações e das experiências que
vamos conhecendo em muitas famílias.
A falta de disponibilidade e
atenção para os miúdos, mesmo quando estão com eles, também contribuem para que
muitíssimas crianças e jovens sintam que vivem à beira de pais para os quais
passam completamente despercebidas, são as que eu chamo de crianças
transparentes, olhamos para elas, através delas, como se não existissem. Não
estando desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas
interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa
vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros
companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia
ou a adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações pode
ficar difícil ir à procura destas crianças e adolescentes e, por vezes, alguns
perdem-se de vez.
Como é evidente, estas duas abordagens,
o uso de tablets e smartphones como “chuchas” para as
crianças, desde muito novas e sem controlo parental, bem como o uso excessivo
destes dispositivos por parte dos adultos contaminando negativamente a sua
disponibilidade para os mais novos não visam diabolizar o seu uso.
Pretendem apenas que a utilização
de smartphones ou tablets obedeça, tanto quanto possível a
regras de bom senso e adequação e que não corra o risco de substituir a mais
importante e potente das ferramentas educativas em contexto familiar, a
relação, comunicação, entre pais e filhos.
Acresce ainda que os estilos e
circunstâncias de vida actuais são poderosos inimigos do tempo disponível para
esta relação o que mais sublinha a necessidade de o usar da melhor forma.
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