quinta-feira, 1 de outubro de 2015

AS CRIANÇAS AGENDA

O crescimento desta oferta é algo que aqui já tenho referido e que justifica algumas notas.
É minha convicção que uma criança que frequente uma creche ou jardim-de-infância de qualidade não tem qualquer necessidade de actividades “extracurriculares”, a multiplicidade de conteúdos e de actividades realizadas será suficiente para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Esta perspectiva não tem qualquer natureza fundamentalista pois admito que com bom senso algo mais possa estar presente na vida dos miúdos.
No entanto, de forma que considero inquietante, fruto dos estilos de vida e das dificuldades genéricas que enfrentamos e de uma cultura que tem vindo a instalar-se de mansinho em muitos pais, frequentemente acompanhados pelas instituições educativas, de uma atitude e um discurso de exigência e de pressão para a excelência no desempenho dos miúdos, a começar pelos resultados escolares e a estender-se a inúmeras outras actividades que a imaginação possa sugerir que se afirmam como imprescindíveis e “fantásticas” para as crianças.
Dito de outra maneira, os miúdos são cada vez mais pressionados para a produção e de alto nível de rendimento. Esta excelência que é exigida é extensiva a todas as áreas em que os miúdos se envolvem, devem ser excelentes a tudo e este “tudo” é muito.
Conheçam muitos pais que olham para este cenário com reserva mas também com receio que as suas crianças podem ficar “para trás” se não “beneficiarem” das actividades “extracurriculares. Algumas instituições alimentam, claro, estas dúvidas.
De tudo isto, para além do tempo, muitas vezes excessivo que os miúdos passam na instituição, surge uma oferta, interna ou externa, com uma diversidade espantosa que tornará as crianças fantásticas, excelentes, em montanhas de coisas que lhes fazem uma falta tremenda para se prepararem para o futuro, basta atentar na oferta disponível. O mercado não está distraído e alimenta com imaginação esta oferta.
A vida de muitas crianças transforma-se assim num espécie de agenda, passando o dia, incluindo fins-de-semana, a saltar de actividade "fantástica" em actividade "fantástica", numa agitação sem fim.
Acontece que algumas crianças, por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos positiva esta pressão e dispersão esgotante o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição escolar e, finalmente, insucesso.
Também sei que em muitas destas actividades estará presente uma genuína preocupação dos seus responsáveis pela qualidade e adequação do trabalho que realizam com os miúdos. A questão é que esse trabalho é apenas um dos mil trabalhos com que se vai enchendo a vida dos miúdos.
A melhor forma de preparar os miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas, mas também sem excessos.

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