O crescimento desta oferta é algo
que aqui já tenho referido e que justifica algumas notas.
É minha convicção que uma criança
que frequente uma creche ou jardim-de-infância de qualidade não tem qualquer
necessidade de actividades “extracurriculares”, a multiplicidade de conteúdos e
de actividades realizadas será suficiente para o seu desenvolvimento e
aprendizagem. Esta perspectiva não tem qualquer natureza fundamentalista pois
admito que com bom senso algo mais possa estar presente na vida dos miúdos.
No entanto, de forma que
considero inquietante, fruto dos estilos de vida e das dificuldades genéricas
que enfrentamos e de uma cultura que tem vindo a instalar-se de mansinho em
muitos pais, frequentemente acompanhados pelas instituições educativas, de uma
atitude e um discurso de exigência e de pressão para a excelência no desempenho
dos miúdos, a começar pelos resultados escolares e a estender-se a inúmeras
outras actividades que a imaginação possa sugerir que se afirmam como
imprescindíveis e “fantásticas” para as crianças.
Dito de outra maneira, os miúdos
são cada vez mais pressionados para a produção e de alto nível de rendimento.
Esta excelência que é exigida é extensiva a todas as áreas em que os miúdos se
envolvem, devem ser excelentes a tudo e este “tudo” é muito.
Conheçam muitos pais que olham
para este cenário com reserva mas também com receio que as suas crianças podem
ficar “para trás” se não “beneficiarem” das actividades “extracurriculares.
Algumas instituições alimentam, claro, estas dúvidas.
De tudo isto, para além do tempo,
muitas vezes excessivo que os miúdos passam na instituição, surge uma oferta,
interna ou externa, com uma diversidade espantosa que tornará as crianças
fantásticas, excelentes, em montanhas de coisas que lhes fazem uma falta
tremenda para se prepararem para o futuro, basta atentar na oferta disponível.
O mercado não está distraído e alimenta com imaginação esta oferta.
A vida de muitas crianças
transforma-se assim num espécie de agenda, passando o dia, incluindo
fins-de-semana, a saltar de actividade "fantástica" em actividade "fantástica",
numa agitação sem fim.
Acontece que algumas crianças,
por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos
positiva esta pressão e dispersão esgotante o que poderá gerar o risco de
disfuncionamento, rejeição escolar e, finalmente, insucesso.
Também sei que em muitas destas
actividades estará presente uma genuína preocupação dos seus responsáveis pela
qualidade e adequação do trabalho que realizam com os miúdos. A questão é que
esse trabalho é apenas um dos mil trabalhos com que se vai enchendo a vida dos
miúdos.
A melhor forma de preparar os
miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas,
mas também sem excessos.
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