O aumento exponencial da procura
de mestrados radica em vários fenómenos. Em primeiro lugar e desde logo porque
o desenvolvimento das comunidades exige mais e melhor qualificação.
Em segundo lugar é de considerar
que a chamada Reforma de Bolonha encurtou as licenciaturas, retirando-lhes
valor, proporcionando valores muito mais simpáticos do número de pessoas com
ensino superior e minimizando os custos públicos com o ensino superior pois o
grau seguinte, mestrado, é suportado pelos estudantes e famílias.
Acontece ainda que, por um lado
pela desvalorização da licenciatura, passando a três anos o que se fazia em
cinco, levou a que muita gente entendesse continuar a estudar para além da
licenciatura, por outro lado, existem áreas de formação em que o requisito para
o exercício profissional é de cinco anos de formação de base pelo,
obrigatoriamente qualquer candidato a essas áreas terá de fazer licenciatura e
mestrado. É o caso da minha área de intervenção, realizei uma licenciatura de
cinco anos que me habilitou para a profissão e os meus colegas mais novos têm
de realizar licenciatura e mestrado para acederem aos cinco anos de formação
inicial exigidos.
Ainda em matéria de demografia importa
salientar que nos últimos anos estamos a assistir a um preocupante abaixamento
da procura de formação superior que alguns estudos associam às dificuldades das
famílias e às percepções sobre empregabilidade e precariedade. Registe-se positivamente
que este ano aumentou o número de estudantes matriculados no ensino superior.
Toda esta questão está, do meu ponto
de vista contaminada por vários equívocos.
O primeiro, radica no discurso
recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que,
dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o
investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de
trabalho, alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente
qualificada está a ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
Um outro equívoco remete para o
estatuto salarial. Apesar da política de proletarização do mercado de trabalho,
da precariedade e do manhoso recurso a estágios, nem sempre remunerados ou
seguidos de emprego, a formação superior ainda compensa.
É claro que não podemos esquecer
o altíssimo e inaceitável nível de desemprego entre os jovens, em particular
entre os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura
de um futuro que por cá não vislumbram mas esta questão decorre do baixo nível
de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais
e de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta
estudar" não colhe e não tem sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de
uma sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e contrariamente
à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de doutores, continua,
em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de qualificação superior em
todas as faixas etárias incluindo as mais jovens apesar das afirmações
insustentáveis de Angela Merkel.
Conseguir níveis de qualificação
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente
qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mercado de
trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento tem vindo a
proletarizar e que não absorve a mão-de-obra qualificada, sobretudo jovem. Não
podemos acolher a mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.
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