Erik Hanushek veio de novo a
Portugal. Lamentavelmente a agenda não me permitiu assistir embora também me
parecesse ser fácil antecipar o que iria ouvir. De novo em relação em aparições anteriores a ideia do impacto positivo de eliminar 4% dos piores professores das escolas.
Como vêem a receita é simples, nem
se percebe muito bem o que anda o resto da comunidade a fazer e a estudar.
Analisa-se o resultado dos alunos em exames nacionais, muitos exames nacionais, registam-se os piores alunos e identificam-se os seus professores, fazem-se umas contas e corre-se com 4%
desses incompetentes. Está feito, é ver os resultados a subir.
Na verdade já não há saco. É o
discurso habitual do ECONOMISTA da educação, professores avaliados,
responsabilizados e pagos diferenciadamente em função dos resultados dos seus
alunos. O sábio minimiza o impacto dos factores culturais quando se analisam,
por exemplo, os efectivos de turma em alguns países, o eterno exemplo dos
países asiáticos, que obtêm bons resultados genéricos.
Como é evidente, melhores
professores, obtêm melhores resultados na generalidade das circunstâncias. Como
é evidente é imprescindível um dispositivo competente de avaliação dos
professores, é uma ferramenta imprescindível à qualidade. Como é evidente é necessário outro
tipo de olhar. Nesse sentido, algumas breves notas.
Hanushek, economista da educação,
centra a sua análise em resultados e, do meu ponto de vista, desvaloriza ou
esquece, dados de natureza processual ou contextual de que as mais recentes
investigações em qualidade na educação sublinham a importância.
A título de exemplo e
centrando-nos numa realidade que todos conhecemos, a portuguesa, é evidente que
um professor de qualidade ou eficiente, seja lá isso o que for, lidará mais
tranquila e eficazmente com uma turma de 28 alunos ou mais numa escola que sirva
uma população qualificada do ponto de vista escolar, uma das varáveis mais
associada ao desempenho dos alunos, do que uma turma com igual número mas
constituída por alunos oriundos de famílias com menos qualificação académica,
em contextos sociais desfavorecidos, com problemas sociais graves, realidade
que, aliás, se espelha nos resultados escolares das escolas que servem de base
aos rankings.
Eu sei que mesmo em contextos
menos favoráveis os “bons” professores conseguem que os seus alunos obtenham
melhores resultados do que os "maus" professores, mas é evidente que
devem ser obrigatoriamente consideradas variáveis culturais e de contexto na
discussão sobre o efectivo de turma, a definição do critério resultados dos
alunos como base da avaliação dos professores ou da definição do seu salário.
Quase que seria dispensável referir a diferença entre trabalhar com trinta
alunos num estabelecimento privado de acesso condicionado ou o mesmo número de
alunos num mega agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com
várias turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
Hanushek esquece ou desconhece, que a educação é mais do que economia, os
estudos de "input-output" são curtos, importa considerar variáveis de
processo e de contexto.
Um outro dado interessante de
discutir quando consideramos os resultados escolares dos alunos como base para
a avaliação e salário dos professores, será o trabalho educativo com crianças
ou jovens com necessidades especiais. Nessa perspectiva, teríamos mais um bom
motivo para os retirar das escolas, comprometem o rendimento dos professores
pois os seus resultados escolares podem ressentir-se dos seus problemas, a
mesma razão porque algumas alunos com falta de rendimento académico são
"convidados" a sair de alguns estabelecimentos ou a não se submeter a exames para não comprometer a sua imagem e ranking. Outra realidade que
Hanushek esquece ou desconhece.
Finalmente, sublinho um ponto
essencial em que concordo em absoluto com Hanushek, o professor é o factor
chave do sucesso na educação, tem-no dito embora o discurso me pareça
contraditório. Por esta razão me refiro frequentemente à forma preocupante como
a classe docente é tratada pelo MEC através de várias das dimensões da PEC -
Política Educativa em Curso, por alguns "opinion makers" e também
pelos próprios discursos de alguns dos seus "representantes", que me
parece ser um péssimo contributo para a qualidade na educação.
Como antecipava a intervenção de
Hanushek, tal como noutras ocasiões, legitima alguns dos aspectos da PEC, por
exemplo, o aumento do número de alunos por turma.
Não é grave, é a política,
estúpido. Les beaux esprits se
rencontrent.
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