"Um quarto dos jovens consome fármacos para a concentração e para acalmar"
Segundo estudo realizado pelo ISCTE e pela Egas Moniz –
Cooperativa de Ensino Superior sobre Medicamentos e Consumos de Performance,
cerca de um quarto dos jovens portugueses, dos 18 aos 29 anos, assume ter
consumido fármacos para melhorar a concentração e o mesmo número assume o
consumo para descontrair e acalmar.
Estes dados não surpreendem. Aliás, é conhecido o aumento
substantivo deste tipo de consumo em época de exames escolares, regularmente
noticiado.
Este tipo de comportamentos, tal como os autores referem, não
pode ser visto de forma descontextualizada dos estilos de vida, quer de jovens,
quer de adultos. Vejamos algumas notas.
Em primeiro lugar, a pressão para a excelência no desempenho
escolar tem vindo a aumentar, já não se confina à pressão para o alto
rendimento desportivo, área em que a situação era mais conhecida. Acresce que
em termos gerais, dadas as dificuldades e a competição, a pressão para o
rendimento é algo de constante.
Muitas pessoas, crianças, jovens ou adultos, lidam mal com
esta enorme pressão para o alto rendimento e ambientes competitivos. A experiência tem-me mostrado variadíssimos casos de crianças evidenciando enorme dificuldade em gerir a pressão familiar para a excelência dos resultados escolares.
Por outro lado, são também conhecidos os excessos no consumo
de álcool entre os adolescentes que entre si não aceitam facilmente ter um
desempenho "inferior" ou medíocre em situações de grupo.
A esta pressão para o "alto rendimento" acresce a
facilidade de acesso aos medicamentos e a atitude de automedicação que nos leva
a sermos um dos países em que este comportamento mais prevalece e em que se
consomem mais psico-fármacos.
Finalmente, uma atitude genérica face ao trabalho, o
trabalho escolar por exemplo, que nos faz remeter para a véspera o que deveria
ser realizado de forma mais regular e espaçada no tempo. Tal facto, aumenta a
sobrecarga e a pressão em curtos períodos de tempo que solicita então uma
"ajudinha milagrosa" que algum colega sempre sugere e sempre se
consegue.
O "doping mental" não é, no entanto, um problema
dos estudantes, é, apenas, uma das muitas faces daquilo que são os nossos
estilos de vida que, estes sim, deveriam merecer alguma atenção, designadamente
nos programas educativos.
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