Sempre que se aproxima mais um 25 de Abril surgem os discursos dos "donos" do 25 de Abril. Cada opinador, actor político ou outra qualquer personagem, vem reclamar ser o "verdadeiro", o "legítimo", o único representante dos ideais, do espírito, de Abril.
Hoje no I, o Geniozinho Pedro Lomba, o adjunto do Génio Poiares Maduro, vem afirmar que o Governo "tenta continuar e desenvolver o espírito do 25 de Abril original".
Também o Geniozinho Lomba não resistiu à tentação da apropriação do "25 de Abril original".
Acho muito interessante a ideia.
Primeiro simpatizo com o conceito de desenvolvimento do espírito mas sobretudo, isso é que é importante, o espírito do 25 de Abril "original".
Claro que, como todos os outros, o geniozinho Lomba explica o que é o 25 de Abril original, ou seja, o seu 25 de Abril e o que é o 25 de Abril contrafeito, o dos outros todos que estragaram o espírito original.
Como é evidente, o Genizinho Lomba entende que os cortes já realizados em muitas dimensões do chamado estado social e nos direitos individuais, a pobreza e exclusão, a entrega generosa à iniciativa privada de áreas estratégicas que deveriam ser tuteladas pelo estado, a implosão da escola pública, as dificuldades crescentes no acesso à saúde, a protecção evidente de grupos económicos, etc., etc., são a defesa do "espírito do 25 de Abril original".
Não, geniozinho Lomba, tudo isto representa um 25 de Abril contrafeito, tóxico, está a fazer mal a muita gente. Assuma a política do Governo que integra, é legítimo que o faça e o 25 de Abril, aquele 25 de Abril de 74, também tem a ver com democracia e diferenças políticas. Mas não crie equívocos manhosos.
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