"“A política que foi seguida foi a que o realismo impunha”, defende-se Passos Coelho"
Como repetidamente tenho escrito,
torna-se muito difícil entender a persistência insensível e insensata,
cega e surda, neste caminho de “custe o que custar", no cumprimento dos
objectivos do negócio com a troika e dos objectivos de uma política "over
troika", atingindo claramente o limite do suportável e afectando
gravemente as condições de vida de milhões de milhões. Estamos a
falar de pessoas, não de políticas ou números, ou melhor, estamos a falar do
efeito das políticas na vida das pessoas.
Com uma cumplicidade e fidelidade
canina que embaraçam, os feitores e os donos dos destinos conceberam, concebem,
uma devastadora situação da qual releva o aumento brutal de situações de pobreza,
bem acima das estatísticas oficiais, o aumento fortíssimo do desemprego e do
número de pessoas desempregadas sem subsídio de desemprego, o abaixamento dos
apoios sociais, a pobreza a afectar crianças e idosos, sempre os grupos mais
vulneráveis, a manutenção de simetrias gritantes na distribuição da riqueza,
enfim, um inferno para milhões de portugueses.
Creio que já ninguém consegue
sustentar a insistência neste caminho. Aliás, até mesmo do FMI se ouviram vozes
contestando o "excesso de austeridade" e são conhecidas as falhas nas
previsões e modelos econométricos que iluminam as políticas seguidas.
Na verdade, o caminho decidido,
por escolha de quem o faz, é bom registar que existem alternativas, está a
aumentar assimetrias sociais e obviamente a produzir mais exclusão e pobreza
mas, insisto, mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste
caminho.
Com este terramoto social e
económico ainda se insiste no discurso do “bom caminho”, do "único
caminho". Isto indigna até à raiva, nós estamos pobres e vamos continuar
pobres.
Nós precisamos de combater a
assimetria da distribuição da riqueza e produzir mais riqueza, precisamos de
combater mordomias e desperdício de recursos e meios ineficientes e muitas
vezes injustificados que alimentam clientelas e interesses outros. Nós
precisamos de combater a teia de protecção legal e política aos interesses dos
mercados e dos seus empregados que conflituam com os interesses das pessoas.
O que precisamos é de coragem e
visão sem subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir
modelos económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados
ou a grupos minoritários de interesses.
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