"Há menos estudantes do secundário a querer tirar um curso superior"
O preocupante abaixamento do
número de alunos que terminado o 12º ano pretende continuar a estudar parece
ter como causa mais provável as dificuldades económicas das famílias que também
explica o abandono de muitos alunos já durante a frequência do curso.
No entanto, temo que o número
relativamente baixo de alunos com a intenção de adquirir formação de nível
superior possa também estar ligado à perversa e errada ideia do “país de
doutores” que, muitas vezes com o auxílio de uma imprensa preguiçosa e
negligente, se foi instalando a propósito do número de jovens licenciados no
desemprego e da conclusão de que “não vale a pena estudar”, um verdadeiro tiro
no pé e que não corresponde de todo à verdade. Desculpem a insistência mas é
preciso.
Em primeiro lugar, os jovens
licenciados não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego
porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente
de mão-de-obra qualificada e muitos estão no desemprego porque, por
desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é
completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.
A qualificação profissional, de
nível superior ou não, é essencial, continuamos com taxas de formação superior
abaixo das médias europeias, como também é essencial a racionalidade e
regulação da oferta do ensino superior e, naturalmente, a regulação eficaz do
mercado de trabalho minimizando o abuso do recurso à precariedade. É ainda de
sublinhar que conforme um estudo recente, "Empregabilidade e Ensino
Superior em Portugal", da responsabilidade da Agência de Avaliação e
Acreditação do Ensino Superior a qualificação de nível superior compensa em
termos de estatuto salarial e empregabilidade, como aliás estudos
internacionais, por exemplo da OCDE, também demonstram. Embora como
recentemente foi divulgado os vencimentos médios estejam em quebra a situação
ainda se verifica.
Por outro lado, parece oportuno
recordar que, de acordo com o Relatório da OCDE, Education at a glance
2013, Portugal é um dos países europeus em que a frequência de ensino
superior mais depende do financiamento das famílias, cerca de 31% dos gastos de
universidades e politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da União Europeia (UE)
23,6%.
Esta informação não é nova. Na
verdade e como é do conhecimento das pessoas mais perto deste universo, o
ensino superior, Portugal, contrariamente ao que muitos afirmam, tem um dos
mais altos custos de propinas da Europa. Conforme dados de 2011/2012 da rede
Eurydice, Portugal tem o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se
considerarem as excepções criadas em cada país, temos na prática o terceiro custo
mais alto no valor das propinas.
Em 2012 foi divulgado um estudo
realizado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que contribui
para desmontar um equívoco que creio instalado na sociedade portuguesa.
Comparativamente a muitos outros países da Europa, Portugal tem um dos mais
altos custos para as famílias para um filho a estudar no ensino superior, ou
seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior, em termos de
orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação superior. Neste
cenário, o número de desistências da frequência tem vindo a aumentar pois
muitos alunos ou famílias não suportam os encargos com o estudo. Sabe-se
também dos constrangimentos na atribuição de bolsas de estudo.
Como sempre que abordo estas
matérias, finalizo com a necessidade de, uma vez por todas, evitar o discurso
"populista" do país de doutores, continuamos com uma enorme
probabilidade não cumprir a meta europeia para 2020 de 40% de licenciados no
escalão etário 30-34 anos.
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