"Trabalhadores a receber salário mínimo triplicam nos últimos seis anos"
É difícil entender a persistência numa estratégia de
empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que mais de dois
milhões de pessoas estão em risco de pobreza e privação. Este é o resultado de
uma persistência cega e surda no “custe o que custar", no cumprimento dos
objectivos do negócio com a troika e dos objectivos de uma política "over
troika", atingindo claramente o limite do suportável e afectando
gravemente as condições de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de
políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das
pessoas. E estamos no “bom caminho”? O país está melhor? E as pessoas, pá?
Num cenário com níveis de desemprego ainda devastadores,
atingindo todas as camadas etárias mas sobretudo os mais novos e os mais
velhos, com desequilíbrios fortíssimos entre oferta e procura em diferentes
sectores, uma legislação laboral progressivamente favorável à precariedade e
insensibilidade social e ética de quem decide, não é estranha a proletarização
do mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas ou mesmo o recurso a uma
forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de "estágio" sem
qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a merecer um emprego pelo
qual se luta abdicando até da dignidade. Lembram-se certamente das intervenções
de António Borges e outros falcões defendendo o abaixamento dos salários e os
discursos que nos mostravam o empobrecimento como a salvação. Estamos a
caminho.
Na verdade, boa parte dos vencimentos em empregos mais
recentes, mesmo com gente qualificada, não são um vencimento, são um subsídio
de sobrevivência. É justamente a luta pela sobrevivência que deixa muita gente,
sobretudo jovens sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo do trabalho
sem margem negocial, altamente fragilizada e vulnerável, que entre o nada e a
migalha "escolhe amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma
remota hipótese de um emprego no fim de um período de indigno trabalho
gratuito. Como é evidente, esta dramática situação vai-se alargando de mansinho
e numa espécie de tsunami vai esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são
"obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são
activos descartáveis.
Ter como preocupação quase exclusiva o abaixamento dos
custos do trabalho através do aumento da carga horária, da precariedade e do
abaixamento de salários não será a forma mais eficaz de combater o
desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza. Parece razoavelmente
claro que a proletarização da economia e o empobrecimento das famílias não
poderá ser a base para o desenvolvimento.
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