quinta-feira, 24 de abril de 2014

OS VELHOS PROBLEMAS DAS VELHAS PRAXES. De novo.

Ao que parece, a tragédia envolvendo estudantes da Universidade do Minho poderá estar relacionada com uma situação de praxe académica.
Apesar de o fazer com toda a reserva que o desconhecimento dos factos impõe, a sucessão de acontecimentos com consequências muito pesadas associados a praxes académicas leva-me a retomar a questão.
Creio que no final de 2012 ou já em 2013, estruturas estudantis ligadas às praxes de nove universidades e institutos acordaram na elaboração de um documento comum que estabeleça um conjunto de princípios que permita regular os comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que regularmente têm vindo a acontecer, alguns com consequências particularmente graves que, aliás, já motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de algumas reitorias e direcções de escola. Esta iniciativa revela por parte dos próprios estudantes a aceitação de situações que devem ser evitadas, daí o esforço de regulação pois, apesar da argumentação sistemática com a existência dos Códigos de praxe e da possibilidade recusa ou do recurso ao Tribunal de praxe, na verdade, muitas situações ultrapassam claramente limites de diferente natureza.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação, mais do que a regulamentação, dos comportamento nas praxes parece-me absolutamente indispensável. Parece-me ainda importante que este movimento de regulação integre o respeito por posições diferentes por parte dos estudantes sem que daí advenham consequências implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente crescida e, espera-se, autodeterminada, seja numa posição favorável ou desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade, humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro. Tenho assistido e tido conhecimento de cenas absolutamente deploráveis por mais que os envolvidos lhes encontrem virtudes.
Apesar dos discursos dos seus defensores, continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade, abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em matérias que claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo positivo a anunciada iniciativa de regulação que envolverá diferentes academias.
Quando me refiro a esta questão, surgem naturalmente comentários de pessoas que passaram por experiências de praxe que não entendem como negativas, antes pelo contrário, afirmam-nas como algo de positivo na vida universitária. Acredito e obviamente não discuto as experiências individuais, falo do que assisto.
A minha experiência como aluno  universitário, dada a época, as praxes tinham entrado em licença sabática, por assim dizer, foi a de alguém desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno porque não acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar.
Provavelmente, advém daí a minha reserva.

1 comentário:

Carlos disse...

Concordo inteiramente com esta posição.
O que mais me choca nestas situações todas é a irracionalidade destes acidentes que manifestam um fato indesmentivel: é que no movimento psudo cultural da praxe os estudantes tornam-se irracionais, tomam atitudes completamente non sense, o que se na maior parte das vezes não tem perigo pode provocar por outro lado mortes e outros danos colaterais aos magotes - como é possivel que pessoas inteligentes se exponham a ondas que os podem levar para o fundo do mar ou que entrem em guerras de cursos em que se empoleiram em cima de um muro que está quase a cair.,É porque a essência das atividades da praxe conforme existem neste pais é a irracionalidade, a perda transitória do espirito critico, o non sense...