quarta-feira, 30 de abril de 2014

A AUSTERIDADE NÃO É COMO O SOL, NÃO NASCE PARA TODOS

"Portugal foi dos países onde o peso do rendimento dos 1% mais ricos mais cresceu"


Recordo também que:


Eu sei, sou estúpido, que é a economia, mas este cenário não pode deixar de ter um enorme valor simbólico face à retórica sempre presente da equilibrada repartição de sacrifícios, da equidade na austeridade que, como é óbvio, é falsa.
Relembro um estudo da Comissão Europeia, de final de 2011, que analisou a distribuição dos efeitos dos programas de austeridade os países que experimentam maiores dificuldades, Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Estónia e Reino Unido.
Segundo o relatório, Portugal "é o único país com uma distribuição claramente regressiva", traduzindo, os pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Pode ainda ler-se que nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu um corte de 9%, ao passo que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do rendimento disponível.
Portugal é ainda de acordo com o estudo o único país analisado em que "a percentagem do corte (devido às medidas de austeridade) é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes". A Grécia, que tem tido repetidos pacotes de austeridade, apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados.
Este quadro genérico tem sido referido noutros estudos e avaliações como agora a OCDE confirma.
É evidente que não existe equidade na repartição dos sacrifícios. Para além de contrariar o discurso oficial de que existe justiça social nas medidas de austeridade, o que as notícias têm de mais preocupante é a constatação de que as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão a aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza e, simultaneamente, mais riqueza para muito poucos embora seja um grupo em crescimento. Na verdade, a austeridade, contrariamente ao Sol, quando nasce não é para todos.
Aliás, o Documento de Estratégia Orçamental, hoje conhecido, insiste no trajecto de empobrecimento e cortes nos rendimentos das famílias. Ainda que se refira a ideia da reposição de uma parte do corte dos salários da administração pública, (o "que se lixem as eleições" era, evidentemente, uma piada), tal generosidade é "compensada" com o aumento do IVA, o aumento nos descontos dos trabalhadores e, como de costume, com mais cortes nas pensões.
Também sei, sabemos todos, que os mercados não têm alma nem ética mas a liderança que transforma é uma liderança com responsabilidade social e com sentido ético. Não basta proclamar equidade e justiça, é preciso promovê-las.

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